CERTA ESQUERDA E UM FIM DO MUNDO

Em vão se manifestam e congregam vozes independentes e livres
de uma certa esquerda humanitária.
A sensação de mal-estar social irremediável,
de limite na miséria irremediável, de exclusão irremediável e galopante
dos mínimos dignos
que vai na mente e na carne viva de tanta gente é já uma coisa incurável,
dolorosa de mais para se mitigar com comícios. Tarde de mais.
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Mas se tais vozes insistirem e nos vierem dizer isto que vivemos e sofremos,
que há outras vias, que há outras políticas diversas de esta selvajaria do dinheiro apátrida,
e nos vierem dizer que os acertos da Altíssima Finança têm de ter limites,
e que a Geometria de Poder dos Poderosos terá de observar um mínimo ético
e que a Dignidade dos Povos exige ultrapassar a inevitabilidade
do alargamento da sua miséria e da sua pobreza não se sabe por que fatalidade macro,
e nos vierem dizer que há mais vida que alienarem-nos penosamente com Futebol
e com as respectivas estrelas fátuas tão lacónicas e básicas na sua exemplaridade,
que há mais vida que directos-TV Infectos de Oco, Empolados de Zero, com DefectoFutebol,
que há muitíssimo mais prioridades que o tornozelo do Ronaldo e os brincos do Quaresma,
ou a decadência castigada do F.C. do Porto,
então, sim, valerá a pena haver comícios
e uma certa esquerda inconformista.