CRÓNICA DE UM BOM PAR DE FILHOS DA PUTA
Para eles, antes de mais a Democracia é uma arte particularmente rendosa
e só nessa perspectiva lhes interessa e a defendem.
Um prega na TV os novos caminhos do descaso liberal
pelos grandes esmagados de Fisco, de arbitrariedade e do vazio laboral português
com que se promove toda a forma de indigência:
é ele o grande caucionador mediático das políticas do «Habituem-se!» em decurso.
O outro, o execrável outro, sempre foi um exímio mamante,
sempre esteve lá, à Boca da Baliza, esse malabarista das sinecuras,
das posições, dos rendimentos,
e mama normalmente de uma mão cheia de tetas ao mesmo tempo:
é, portanto, versátil e quando fala só sai asneira e estupidez da grossa.
Não gosta de ser incomodado enquanto suga.
Não gosta de ser perturbado
enquanto zela por que os seus correligionários suguem também.
lkj
Para eles, Manuel Alegre não pode destoar da pseudodisciplina partidária do PS,
nem para dizer os seus 'nãos' contra abusos e opressões novas, impensáveis,
nem para gritar o que lhe dite a consciência e a utopia fraterna outrora sonhada,
recusando ser a auto-anulação pessoal de um Alberto Martins
cujo desempenho na bancada de que é líder? é do mais dolorosamente deprimente e servil:
aquela voz trémula, aquele empolado encomioso ao Grande Faraó, Grande Fraude,
resume toda uma acefalia avançada que nos trai.
lkj
Para eles, é possível tentar destruir e menoscabar um homem,
mais que um Homem, um Poeta!,
que pode ter e tem muitos defeitos Humanos e Poéticos,
mas não tem uma consciência vendida, ou vencida, ou interesseira,
mas não tem a muito em voga insensibilidade social sob a lei cega da Ganância,
mas não tem o indiferentismo orgulhoso, hediondamente sorridente,
para com a sorte de multidões de esbulhados, de excluídos, de vendidos, de eliminados
pelo esplendor absoluto da Desigual Riqueza em Portugal,
um Portugal de abismo em abismo, de dissolução em dissolução,
de desactivação em desactivação,
fosso entre cidadãos injusto
de que uma Europa inteira se envergonha Vitorino.
lkj
Para eles, Manuel Alegre é um incómodo.
É natural. A todos os filhos da puta intemporais, essa escola de cretinos perpétuos,
para todos os grandes bem-governados de todas as Situações Provisórias de todos os tempos,
para todos os MegaBurocratas nas Amplas Secretárias Estalinianas de todos os tempos,
esses braços extensíveis do Diabo que gizavam assassínios,
eficiente engenharia revolucionária,
esses títeres do Demo que sorteavam vítimas necessárias,
a esses!, a todos esses!,
sempre incomodou fosse quem fosse
que piasse ao lado do grande consenso na Rapina Lello,
e por isso bradasse, e contra isso destoasse.
lkj
E o assassínio físico ou de carácter é o passo seguinte.
São vozes que quando soam deflagram a Farsa, consumam-na Vitalino,
tão ridículos e nulos como este Espadarte Morto boquiaberto, boquipasmado Canas!
São vozes que afirmam a Negação do Outro,
que troçam da Pena Insubmissa e troçam da Espada Indignada,
são os Címbalos-Som-Seco da Mentira
dita a rir e que nos faz, a nós Poetas, sangrar esta sanha revoltada!
Comments
Num país, numa Europa e num mundo descontrolados pelo capitalismo ultraliberal e pela progressiva globalização selvagem, é importante e salutar que algumas pessoas se reúnam para clamar que "o rei vai nu".
Não basta, no entanto, proclamá-lo mas também apresentar propostas concretas que consigam ir travando a decadência ética a que se assiste enquanto não é possível inverter a tendência dominante. Não estive presente na sessão e não sei se foram avançadas tais propostas, ainda que o momento (tratava-se de uma festa) não fosse o mais propício. Aliás, os jornais, que servem interesses específicos da dita globalização, só focaram a "excepção" Manuel Alegre, e descuraram os outros aspectos da reunião.
Tenho no entanto a consolação de imaginar que o Doutor Salazar, tão citado neste blogue, talvez não desdenhasse estar presente. Salazar (e quem verdadeiramente estudou o seu pensamento, sabe-o) detestava a América e tudo o que dela pudesse provir: logo este louco capitalismo ultra-liberal e a famosa globalização. Salazar sempre se preocupou com a classe média e detestaria esta nova economia que faz os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Salazar efectuou reformas que progressiva, embora lentamente, melhoraram a vida da população do país (falamos de um quadro de há 50 anos). Salazar, que evidentemente não era marxista, tinha preocupações de justiça social que, em relação aos anos quarenta do século passado não eram muito diferentes na essência daquelas hoje expressas pelo Bloco de Esquerda, despidas as roupagens ideológicas. E muito mais se poderia escrever, mas aconselho a leitura dos Discursos e Notas Políticas de Salazar e do Livro Branco do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Por isso, não me custaria a acreditar que Salazar fosse à sessão do Trindade e que apresentasse algumas sugestões concretas para os problemas de Portugal.
Mesmo assim é quando te sai o mais cortante.