IMPRESSÕES BRASILEIRAS II

1. O consumo, no sentido ocidental do termo, veio para ficar no Brasil. O sector bancário começa agora, e só agora, a alimentar prodigiosamente o acesso aos bens de conforto e qualidade de vida sobretudo de uma classe média emergente na ordem dos trinta e oito milhões de neoconsumidores a cada ciclo político. Eis o risco, mas também o desafio. Será necessário uma pedagogia preventiva, que de facto os principais media empreendem, sobretudo a Globo, de modo a orientar os cidadãos e conservar a sociedade em equilíbrio, evitando o vergonhoso descalabro das dívidas pessoais e nacionais monstruosas por décadas, descalabro de que Portugal se pode penitenciar por erros próprios, incompetência, malícia e avidez sectária. O Brasil produz tudo, exporta massivamente, tem como normalidade o superavit fiscal e comercial e deve atentar no lema: não há país rico com uma sociedade pobre. Há, portanto, muito a fazer por uma sociedade mais consciente, apostada no civismo e na justa distribuição da riqueza. 2. O potencial e a solidez económicas do Brasil, avassaladores, não se conjugam com os ratings de que é objecto pelas agências funerárias de notação, tanto quanto sei, os piores: BBB, desde há décadas, com a desculpa do respectivo historial de intervenções externas. Nunca a vida financeira internacional foi tão debochada e cínica, sobretudo quando se contrasta tal realidade com o tratamento recebido pelos EUA. 3. Há dois problemas semelhantes que a política e a sociedade brasileiras não parecem debelar com eficácia, embora todos os sinais de reacção e determinação estejam ao rubro: o tratamento dos lixos e a criminalidade, aqui recorrente e violentíssima. Também há imenso a fazer na separação e reciclagem dos primeiros e na detecção e repressão exemplar da segunda.

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