ANÕES VINGATIVOS
Cavaco andou devagar com a devastação socratesiana. Tolerou-a. Empurrou o primeiro mandato com a barriga até chegar ao segundo e, só depois, vingativamente, denunciou a podridão socialista-socratista e o seu efeito demolidor no País, por ele avisado, mas não protegido. Tarde de mais. Depois chegou Passos, triunfal e autossuficiente, encerrado na torre de marfim financeirista de quem multiplicaria os pães e os peixes depois de os subtrair a milhões em dois dolorosos anos, sem grandes explicações ou pedagogia, somente com a generosidade de um sem-número de argoladas políticas ao arrepio do primor técnico da Troyka: os bons resultados finalmente estão aí. Aparecem. Todos os interesses instalados e por instalar, porém, esfaqueiam precisamente os que ousaram fazer quanto a Troyka recomendou terapeuticamente ao País e os economistas reclamavam há décadas, faltando ainda o corte permanente de 5,7 mil milhões de euros, questão de vida ou de morte para Portugal. Nunca, em apenas dois anos, se fizera tanto. Sub-repticiamente, Portas iniciara entretanto o grande teatro-escorpião de distinção formalista em relação ao núcleo duro do Governo Passos-Gaspar, na primeira TSU, na segunda TSU dos Pensionistas. Ele era bonzinho. Eleitoralmente escrupuloso. Eminentemente calculista. Socialmente sensível. Politicamente sonso. Os outros duros, politicamente moucos, porcos e maus. Por último, corolário de tudo, as demissões. Todas vingativas. Todas chantagistas. Gaspar vingou-se de Portas e do que em Passos transigiu com Portas. Portas vingou-se de Passos e do gelo com que Passos o votou na sua liderança salazarescamente convicta e autossacrificial. Cavaco, esse vinga-se de todos. Especialmente de nós, cidadãos. Estamos bem fodidos se o Presidente, Sísifo-Tântalo condenado a tentar salvar inutilmente a face toda a vida, nos fizer perder novamente um tempo precioso. Tarde com Sócrates. Retardando soluções com Passos. Uma alma atormentada, este Cavaco.
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