DERROCADA PORTUGUESA COM CERTEZA

«Ao ver tantos antigos e prospectivos líderes do PSD em fila para ir convencer Passos Coelho a deixar Sócrates no poder, lembrei-me do mais dramático discurso que um presidente da república fez até hoje em Portugal. Foi a 30 de Setembro de 1974. Spínola veio à televisão revelar que estava iminente a bancarrota, o caos e uma ditadura comunista. E quando toda a gente esperava que o general anunciasse a exoneração do governo, o estado de sítio ou coisa assim, eis que ele participa... a sua própria demissão. A elite suplente do PSD está na mesma. Brada que este governo não é de confiança, que perdeu o controle da despesa e que vai, com impostos, afogar a economia. Mas em vez de concluir que é urgente arranjar outro governo, que diminua o peso do Estado e crie um ambiente favorável ao investimento, ao trabalho e à poupança, ei-la a proclamar que o melhor é o PSD submeter-se  pela terceira vez num ano  à vontade de Sócrates, viabilizando, sem refilar, o orçamento nos termos do governo. Há razões para a viabilização? Há. A eleição presidencial, que impede uma transição rápida, é a melhor. Mas evitar a bancarrota? Essa já foi a história do PEC de Maio, com a bênção de Bruxelas  e eis onde chegámos. Há ainda quem preferisse aguardar por melhor ocasião para apear Sócrates. Mas quando é que, nos próximos anos, estará o país numa situação em que não seja uma “irresponsabilidade” derrubar o governo? Examinemos, porém, a perspectiva da bancarrota. Dizem-nos que significa descrédito, empobrecimento e governação estrangeira. E como estamos nós? Só o BCE nos empresta dinheiro, divergimos da Europa, e os PECs chegam de Bruxelas. Não haja ilusões: nenhuma simples exibição de “bom senso”, sem mais, fará os “mercados” esquecer que o Estado e o modo de vida em Portugal não condizem com a economia e a demografia. Essa é a questão. Para os mercados, já falimos. Só a alavancagem do país pelo BCE nos tem poupado à realidade. Mas Bruxelas exige agora, como contrapartida, um consenso orçamental. O governo, sempre hábil, viu logo a oportunidade de transformar o que deveria ter sido o seu próprio óbito, num meio de desacreditar a liderança do PSD, forçando-a a aceitar, sem discussão, a agressão fiscal de que discorda e que prometera rejeitar. É isso que está em causa. Vai Bruxelas  e, devido à alienação dos mercados, é de Bruxelas que devemos falar  punir o país se o PSD resistir? A oligarquia do regime, num curioso intervalo da habitual descontracção nacional, resolveu assumir que sim. A tensão deixou o PS e o PSD nervosos com os respectivos líderes. Não haver orçamento tem custos, mas haver, como simples imposição do governo, também. Para começar, o custo do saque fiscal que vai, mais uma vez, compensar a incapacidade governamental de conter as despesas. Depois, o custo político. Porque caso o PSD deixe passar a proposta nos termos que o governo exige (repito: nos termos que o governo exige), dificilmente voltará a ser, sob esta ou qualquer outra direcção, uma alternativa credível  sobretudo se ficar a impressão de que o drama desta semana foi afinal uma comédia. O regime arrisca-se, para segurar as mesadas do BCE, a perder a capacidade de gerar alternância. Acreditem: essas coisas também se pagam.» Rui Ramos

Comments

Anabela,
«30% são mais de 3.000.ooo de pobres (…) a passar fome»
(…)
agora pelas avenidas chiques da Lisboa (como ontem o pregador comentador Marcelo sublinhou ter visto)
amanhã a portas de igrejas a esperar pão do céu, que, por enquanto, salvo o devido respeito, lhes dão migalinhas-hóstias — que o vinho, do mais fino, é para o senhor abade…
como se o cristo não tivesse comido e pão e peixe ainda depois de ressuscitado, e não tivesse passado a água a vinho do melhor em Cannaã e o vinho em sangue «para a vida do mundo».
Sumo-me de vergonha da Igreja que em pia me deu nome cristão, amiga!

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http://anabelapmatias.blogspot.com/2010/10/levanta-te-portugal.html

Abraço, Joaquim!
Anonymous said…
Aparentemente o maior problema de Portugal é psiquiátrico ou criminal. É só ler: «A proposta de Orçamento do Estado para 2011 "protege o País da crise internacional, protege a economia, protege o emprego e protege o modelo social em que queremos viver", afirmou o primeiro-ministro ao Diário Económico.». Não é preciso ser especialista nestas matérias para perceber que estamos perante uma situação em que a medida mais urgente e necessária é remover a criatura José Sócrates do cargo de PM. Não é uma questão de divergência política ou de opinião. É já de pura sanidade mental e de imagem no exterior.
Manuel Rocha said…
“Não haja ilusões: nenhuma simples exibição de “bom senso”, sem mais, fará os “mercados” esquecer que o Estado e o modo de vida em Portugal não condizem com a economia e a demografia. Essa é a questão. Para os mercados, já falimos.”

Qual o país do capitalismo Ocidental dito desenvolvido em que o modo de vida condiz com a economia e a demografia ? Quererá o insigne articulista responder a esta singela questão fundamentando a sua análise em cenários que ponderem a dependência energética do Ocidente e a mais que provável alteração dos preços politicamente baixos a que a energia tem sido transaccionada ? Lá se desmoronava a “solidez” da tese, não era ?

Este arremedo de análise que aqui nos deixas é um case-study de simplismo intelectual, Joshua. A reboque da suposta evidência de premissas falsas o articulista atraca a sua vacuidade opinativa nos portos da demagogia onde se sente confortável, ao abrigo das exigências do conhecimento .
O capitalismo moderno vive da troca de expectativas. O seu poder reside na capacidade de inventar o futuro e é dela que se alimenta. Fora disso, dobre-se o preço do petróleo e até a Alemanha já faliu. Tal como a nossa, também a prosperidade alemã se alimenta de fictícias riquezas alheias. No dia em que não houver japoneses ricos para comprar BMW’s também não haverão alemães ricos para comprar férias na praia dos Tomates. Ajudar os simples a perceber isso é um dever cívico de quem como tu revela honestas preocupações de justiça social, Joshua. Mas nem a alternativa nem a revolução medram sobre a ignorância saloia dos néscios que aqui tens exposto. Tudo o que assim consegues é cultivar exactamente o que pretendes extreminar.

Abraço
Manuel Rocha said…
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Anabela:

Só mais dois pontinhos quanto ao resto do muito mais que haveria a clamar sobre esta «vexata questio…»:

1)

Porque é que Igreja não dá de comer a quem tem fome?

2)

Porque é que Estado, ou Governo, não fixa tecto, mas baixinho, a pensões e acumulações de pensões de reforma multimilionárias?

-

Não me envergonha só ser cristão com uma igreja instituição destas, envergonha-me mais, e de morte, este país do desgoverno infame, duns quantos nababos vampiros.

Era Português António e Santo, que, já há séculos idos, verberava CONTRA PEIXES TAMANHÕES, que, para engordarem, muito peixinho miúdo comem por força.

in

http://anabelapmatias.blogspot.com/2010/10/levanta-te-portugal.html
Ó Joshua, esta (aparente) posição de força do PPC, também me traz à memória outro episódio histórico da nossa vida política.
Decorria o mês de Novembro de 1975 quando Pinheiro de Azevedo bradou, em pleno Terreiro do Paço :
"É só fumaça, o Povo é sereno"

E aqui o problema, ou melhor, os problemas, são mesmo esses, ou seja, a postura do PPC e do seu PSD são mesmo só fumaça, e o
Povo, ah o Povo ! esse é sempre demasiado sereno, isto para não dizer mesmo que é um Povo de cornos mansos !

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