ESPONDILOSE DA BLOGA

Cultivo por aqui, há muitos anos, sem a cultuar, uma crítica sistemática a um sistema de mentir e esbulhar que se incrustou no Regime, absorvendo-o, e que conflui perigosamente com um partido político tão evidentemente como o tifo é unha e carne com a ratazana, rickettsia mooseri. Com isso, fui coleccionando notórias invejas, mesquinha indiferença (a falta de uma palavra de apaixonada agressão ou de solidário estímulo não passa muitas e muitas vezes de puro assassinato e demissão de espíritos a roçar o egoísmo mais indigente). Coleccionei também e, sim, isso cultuo, a amizade de muitos leitores. Graças a Deus por eles. Tudo o que sou e tudo o que sinto segue em frente. Sim, sigo cheio de seiva, energia de apóstolo, por entre pedregulhos, fragas cortantes e penedos, sob o persistente e ostensivo desprezo da bloga oficialista, empresarial, indiscutível, tipo Blasfémias, 31 da Armada e outros lordes definitivos da especialidade opinativa aparentemente mais popular. Dir-se-ia que a Merda, isto é, o seu pedantismo exclusivista, abençoa a Outra-Merda, isto é, a maldade da maligna actuação política dos nossos dias, mesmo quando aparentemente a expõe e aparentemente a denuncia com propriedade e acutilância. Isto pelo simples facto de que, desprezando a pluraldade das vozes, essa bloga "única" e "indiscutível" na verdade se demite de federar vontades, congraçar esforços, unir na lucidez e na paixão por Portugal. Vivo perfeitamente com isso. Temo é que o País não vá a lado nenhum sem pluralismo, sem abertura, no exercício imprevisível da diversidade que comenta e se interessa. É a espondilose da bloga betinha em todo o seu esplendor hepático, baço, opaco: ela despreza um tom, uma leitura e uma linguagem que não são os seus. E faz mal. Sou o que sou, aquele que sou e sei que resistirei. Duvido que resistam!

Comments

...e eu que tenho andado há muito quedo e mudo, que não cego, por este seu sítio sou com amizade, e sem que me seja pedido, a repetir. Joshua,
costumo ler-lhe alguns comentários nas caixas de ... e do ... e dos ...
Absoluto engano e pura perda de tempo. As verdadeiras razões nunca lhas direi por aqui mas já lhas apontei por outra via.
Um erro -- sempre e de cada vez que os reconhecer lá no sítio deles. Já dar-lhes forte e feio, aqui no seu é outra coisa.
Um abraço
David Oliveira
P.S.: escreva sem lhes dar confiança que isso é que os mói e desespera.
joshua said…
Caríssimo David, tenho-o por amigo e mentor: e com que qualidade fraterna, capacidade de dizer numa sã frontalidade, Deus meu!

Aquele Abraço!
francisco said…
Neste blogue pratica-se a forma mais adequada e mais exacta para interpretar/denunciar aquilo que se vai passando neste país. É o registo da indignação. E se alguém o reprova ou despreza, é porque não está indignado; é porque apoia a situação.

Acrescento um aspecto que me parece pertinente. Para além da importância em discursar para o presente, para as gentes do presente, acho que seria de grande utilidade discursar também para os do futuro, ou melhor: garantir que estes relatos e estas críticas chegam às gentes que vêm a seguir. Receio que o publicado, hoje, neste meio volátil que é a Internet, não tenha existência posterior, desperdiçando uma das utilidades da crítica que é alertar os vindouros para o perigo dos erros se repetirem. Nisto, imprimir e publicar é importante.

E é erro entender que não sendo ficção, comunicação científica ou peça informativa ao jeito das estandardizadas pela comunicação social, não merece publicação impressa. Não há literatura mais rica do que a crónica de acontecimentos, em que o autor descreve factos e apõe a sua interpretação. A um só tempo registamos os factos e uma interpretação coetâne - ainda que seja uma interpretação subjectiva, parcial, comprometida; como deve ser toda a critica séria, afinal de contas.

Isto digo eu, que receio que daqui a umas décadas apenas conheçamos da história de hoje aquilo que os pasquins subsidiados e o Diário da República dela nos dão conta.

Abraço.

Francisco
Anonymous said…
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