CASO ESPANHOL E AS IMBERBIDADES SEGURISTAS
«D
izem por aí que a
hegemonia económica
da Alemanha está a
provocar a ressurreição
do patriotismo. Claro
que ninguém gosta de
ser governado por uma troika de
funcionários da União Europeia,
do BCE e do FMI, que não falam
a língua, e não conhecem,
senão da maneira mais formal
e simplifi cada, a sociedade, a
história e a economia do país
para onde os mandaram. Mas
não me parece que esta nova
espécie de protectorado (menos
claro que os do século XIX) vá
tendencialmente levar a uma reacção das “Pátrias”, como
elas dantes se concebiam: com
exército, bandeira e soberania.
Bem pelo contrário, se alguma
verdadeira proeza a “Europa”
sem dúvida conseguiu foi o
aumento do nacionalismo e do
regionalismo, especialmente em
Estados cuja unidade nunca tinha
sido muito forte.
António José Seguro, com a
lucidez socialista que nós para
nossa desgraça conhecemos,
exigiu para Portugal um
“tratamento” nas “mesmas
condições” de que Espanha
“está a beneficiar”.
Para já
não mencionar pormenores
dispiciendos de grandeza, volume
e peso no mundo, o sr. Seguro
seguramente não notou ainda
(apesar da infl uência didáctica
do Euro) que o hino “espanhol” é
uma vaga marcha militar sem uma
única palavra. Porquê? Porque o
hino “espanhol” não pode falar
em “espanhol” (castelhano) ou
em “Espanha” (por causa da
Catalunha e da Biscaia — e até da
Galiza). Sobrepor uma troika (e
é isso que preocupa o sr. Seguro)
a este difícil equilíbrio seria a
receita para um desastre interno.
Quem não aceita a normalidade
e a justiça do domínio de Madrid
(aliás, relativo) como aceitaria a
autoridade de uma gente estranha
e na aparência hostil, com um
recado do FMI e da sra. Merkel?
E, em Itália, as coisas não são
muito diferentes. Convém não
esquecer que a Itália do Norte
não é a Itália do Sul. E que a Itália
do Norte pensa em substância da
Itália do Sul o que a sra. Merkel
pensa da Grécia ou de Portugal.
Existem, de resto, partidos
separatistas, que se querem ver
livres de tudo o que está abaixo
da Toscânia. Nenhuma pressão
aplicada a esta construção recente
(e sempre polémica) resistiria a
qualquer forma de “absolutismo”
externo, principalmente se lhe
chegasse da Alemanha, por que
alimenta um ódio particular. Com
países como a Espanha e a Itália, a
intervenção da “Europa” precisa
de um tacto e de um cuidado
diplomático que Portugal, e
mesmo a Grécia, dispensam. Pior
ainda: como Deus, certamente por
lapso, não criou a “Europa” para a
troika, de leste a oeste não faltam
casos destes. Os federalistas e
os partidários da “coesão” e do
upgrade que tomem cuidado.
Pelo menos, desta vez.» Vasco Pulido Valente
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