ESTADO PORTUGUÊS PROMOVE IMBECILIDADE
Ao abater e despromover imbecilmente o ensino do Latim e do Grego clássicos: «“Estamos a precisar de outro Renascimento” – dizia-me o meu filho mais velho hoje à hora de almoço. Sim, infelizmente estamos. Voltámos ao tempo da necessidade de uma resistência cultural semiclandestina, como a dos monges da Idade Média que transmitiam dentro dos seus mosteiros, de geração em geração, a álgebra, o latim e o grego, a escolástica, o alfabeto e a gramática, a astronomia, a botânica, olhados com desconfiança pelo poder obscurantista e lutando, sem qualquer compensação e às vezes sendo perseguidos por isso, pela preservação de um saber ancestral. Ou, mutatis mutandis, à Polónia ocupada pelos nazis, na Segunda Guerra Mundial, em que os (ex-)estudantes das universidades encerradas pelos alemães se reuniam secretamente, correndo risco de vida, para ouvirem, a seu pedido, as lições clandestinas dos seus professores.
Convenhamos: a Torre do Tombo e muitos arquivos menores espalhados pelo país, os sítios arqueológicos, os laboratórios anónimos onde discretamente se faz muita investigação em ciência fundamental, muitos museus e monumentos nunca poderão competir com o karaoke, com o divertimento instantâneo e barato da popularucha televisão de massas, com os noticiários sensacionalistas, com o desporto-rei ou com a mexeriquice brejeira e universalizada. Nem por isso – espero! – se supõe que o Estado mande agora fechar museus e arquivos, enterrar espólios, encerrar escavações, observatórios e laboratórios a que falte público ou aclamação.
Há coisas que só a Escola pode ensinar. O latim e o grego estão entre essas matérias de que nunca nenhum instituto de vão de escada, nenhuma associação cultural de bairro (com todo o respeito), nenhum clube desportivo se irão abeirar. Por isso, a Escola tem na preservação deste saber um papel simplesmente insubstituível.» João Veloso
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