CARNE EVANESCENTE CARNE


















Se eu encontrasse Platão
esmurrar-lhe-ia a cara,
e ao passar por Santo Agostinho,
não sei se não lhe ía às trombas.
Para tal desprezo da corporeidade identitária,
aqui e Além,
para tal perspectiva provisoriista e negadora de este Corpo
bastava deixar sossegados os politeísmos reincarnacionistas orientais,
não era preciso trazê-los para dentro da filosofia,
da política - e sobretudo da religião!

Foi a sedução da evanescência,
da purificação despersonalista e despersonalizadora!
Foi a tentação de os conceitos serem mais verdade
que a odorosa maçã
vista, tocada e mordida.

O que é preciso é o Corpo no seu desenho
de aqueduto, sangueduto,
perfeita perífrase de eternidade,
metonímia dela.

Toda a glória está no Corpo,
no que ele possibilita em encontro e amor.
A castidade é esse encontro e esse amor,
por milagre, nos não devorar.

Gerado no ventre do consentimento
ou do acolhimento grato,
amadurecido numa migalha de anos,
depois maduro, murcho, morto,
re-semeado,
do Corpo não se perderá
nem um cabelo.

Restaurado,
retomado,
há como que uma uma matriz do que somos
salvaguardada no âmago mais âmago da chamada matéria,
há uma inexorabilidade da nossa identidade,
no íntimo mais íntimo
infratómico, infraquárkico,
do que somos,
que é imortal e aguarda glorificação.

Cristo havia eros.
Ágape e eros,
gozo e espírito,
a Verdade.
O Corpo de Cristo é a Verdade.
A Verdade não nega,
sublima, restaura, eleva,
sorri.
Não há reincarnação que valha um sorriso.
Sorriso é sinal de ressurreição,
da corporeidade glorificada,
imortal,
retomada.

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