MOURINHO E OS ESPERANÇOSOS NO JOGO


A todos quantos, apostando, por aqui e por ali,
com um eurito ou dois,
tentam e tentarão ganhar um prémio qualquer em ponto grande,
janela de sonhos e de derradeira libertação,
numa raspadinha aldrabona qualquer,
numa qualquer fracção impossível da Lotaria Popular,
ainda que muitos critiquem a fonte de esse remoto ganho,
a sua origem ociosa,
a fama ruim de ter sido o jogo,
e não o trabalho, a premiá-los,
aos que tentam e tentarão, por aqui e por ali,
a minha homenagem.

Frases cínicas como a de Mourinho,
sempre em pose majestática,
é que se dispensam:
claro que ele «não gasta uma libra» em apostas,
[os ingleses gastam rios de libras nelas!]
queira ou não atingir Ferguson ou Ronaldo nas suas apostitas de milhares.
Ele não aposta porque não tem nada mais a ganhar para além daquilo que ganha.
Não é porque lhe custe sangue o trabalho que não aposta.
Não é porque lhe custe mais a ele o dinheiro que ganha.
É porque já tem despreocupadamente imenso, desanuviadamente de mais
e que chegue que não aposta nem lhe serve para nada apostar.
Por sua vez, é porque têm de menos [quantas vezes menos que o menos]
que milhões de seres humanos normais,
na normalidade do seu desespero e ingenuidade normal,
esmagados, usados, pisados, ptelecados de precaridade em precaridade,
subpagos, ainda que sobreesforçados,
apostam o pouco que podem
em Portugal, na Guiana Francesa
e na China,
lá onde o resto do mundo é asno.
Mourinho que não se arme em Pitonisa de Delfos
dos tempos modernos,
tão peremptório é em quase tudo,
oráculo infalível no receituário do sucesso,
até no seu inglês 'irrepreensível': «I sink this, I sink that, I sink!»
Como se vê, o futebol vive de afundanços,
é um basquete esquisito
que também se joga com a língua.

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