EUROFRAGILIDADE
Lá, na Europa, as pedras falam, eu sei.
Lá, os templos têm peso e gritam história densa,
muito sangue mana ainda
dos interstícios das catedrais,
dos principais monumentos,
e das usinas
e dos campos,
onde sopra mnemónico ainda
aquele vento das agruras passadas.
Lá houve revoluções, invenções e maquinações,
houve o falso Marx, outros bruxos e centelhas de belo
Mozart
e verdade
Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni,
grandes causas, grandes moções de Povo,
um Povo hoje pesado, egoísta e dormente.
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Aqui, porém, Brasil, tudo é jovem,
tudo é promissor,
parece que se começa sempre de novo o que quer que se comece,
aqui há mais sorrisos,
mais gente,
o amor circula-amplexo
o abraço é tão extremo como a violência,
aqui há, nas mulheres,
perpétua,
a miraculosa virgindade
fecunda da ternura
e que se possa, feliz, semear tanto
dulcifica-me e apaixona-me,
explode-me dentro tropical um calor igual ao de cá.
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Amo, por isso, o calor de aqui,
amo os matos e amo os campos de aqui,
amo a minha água de coco, minha talhada de mamão,
o meu suco de manga,
o meu suco de acerola,
e amo forte as gentes da Roça,
e a sua simplicidade essencialina atrai-me e tenta-me a permanecer,
e sinto-me e sou muito amado aqui,
e fiz muitos amigos aqui,
e vejo e toco e abraço Deus nas pessoas que d'Ele se aproximam apaixonadas,
aqui.
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