O HIPÓCRITA SOARES
Há caramelos cujo direito de antena tresanda a viciação do jogo democrático, a interesse ou causa própria, a manobrismo habitual e trabalhinho de sapa. Soares é um desses caramelos, um infatigável governado. Faria um bem inestimável ao País se fosse dormir a sesta, titubear sobre um jornal aberto no regaço, sob o cantar dos melros e o rumorejar das árvores. Em vez disso, depois de décadas em exercício de gordura açambarcadora, zelo sectário e ganância, vem bolçar opinião papal acerca da RTP, dizer coisas que até podem influenciar a ganadaria nacional, mas não fazem a Primavera. O que Soares diz não interessa. Não interessa que não acredite que o Governo avance com a concessão da RTP, perante a possibilidade de ser inconstitucional. Não interessa que venha considerar, via Diário de Notícias, essa proposta, tal como foi anunciada na semana passada pelo economista António Borges, «uma pouca vergonha». Pouca vergonha foi o Fax de Macau e todo o percurso ávido de que nos dá conta Rui Mateus, nos Contos Proibidos. Só isso dava um excelente motivo para andar caladinho, exercitando os seus ébrios e insaciáveis momentos de lucidez.
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