AS MINHAS FELIZES HORAS FAMINTAS

Boas Férias, Esquerda Caviar-Lagosta!
A sério. Tenho passado fome. Mas nisto nada há de trágico. Pão. Água. Saladas. Fruta. Chegam e sobram para uma excelente silhueta, acompanhados por corrida intensa duas vezes por dia até à minha praia que fica só a dois quilómetros. Regresso lavado em suor, quarenta minutos depois. Não há dinheiro? Haja saúde! Não posso largar os velhos no Gambrinus, porque vivo no Porto e os meus velhos não se empanturram. Comem bacalhau ou outro peixe com batatas, regados com azeite, quase todos os dias, bebem vinho tinto barato, dormem a sesta e vão à missa. Não faço, porque não posso, reservas no dia anterior em lado nenhum concorrido como o Povo Gourmet de Esquerda, que inveja, foda-se! Não esqueço nem recordo a carta e o preço, coitado de mim, e não me deposito nas mãos de chef nenhum. Quem dera depositar-me. Gosto de comer. Ressinto-me dos meus limites de bolso. Pode até ser o melhor jantar de Lisboa, algures na periferia de Algés, mas estou demasiado fodido até para lanchar ou sneckar sem peso na consciência. Este ano correu mal, muito mal. Por mais que trabalhasse, o dinheiro foi sempre miserável, a puta da penhora, o caralho do Fisco. Sempre pouco, sobrevivencial. Sempre nada. Parece que a lista inclui bons vinhos, o Avillez e o Koerper. Gosto de beber. Este ano bebo merda.

Comments

Daniel Santos said…
andas realmente inspirado. Tirando as partes em que te atira em defesa do surrealismos de direita, aprecio a tua escrita.

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