PRIMEIRO RELANCE A UMA MULHER

Estavas sentada, no meio do banco,
Completamente só,
pelo menos não avistei ninguém no deslumbramento que os meus olhos te enviaram.
Ao mesmo tempo que passava, tu levantaste a cabeça.
Curvei involuntariamente os ombros,
E quando me coloquei mais longe, do mesmo lado, fitei-te.
Tinhas um largo chapéu de palha,
com fitas cor-de-rosa que palpitavam ao vento, atrás de ti.
Os bandós negros, contornando a ponta das tuas grandes sobrancelhas,
desciam muito baixo e pareciam comprimir amorosamente o oval do teu rosto.
O vestido de musselina clara, salpicado de bolinhas verdes,
espalhava-se em pregas numerosas.
Encontravas-te a bordar qualquer coisa,
e o nariz direito, o queixo, toda a tua pessoa se recortava no fundo azul.
Como mantivesses a mesma atitude,
dei várias voltas de um lado para o outro para dissimular a minha manobra.
Depois, pus-me muito perto da sombrinha, encostado ao banco,
e fingi observar uma chalupa no rio.
Jamais vira um esplendor como o da tua pele morena,
como a sedução da cintura,
nem como a delicadeza dos dedos que a luz atravessava.
Encaravas o teu cesto de costura com assombro,
como uma coisa extraordinária.
Quais eram o teu nome, a tua morada, a tua vida, o teu passado?
Desejava conhecer os móveis do teu quarto,
todos os vestidos que usaras, as pessoas que frequentavas.
E mesmo o próprio desejo da posse física desaparecera em mim
sob uma ânsia mais profunda,
uma curiosidade dolorosa
que não tinha limites.

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