HERPES BLOGUEAL
Nem sonhem em pôr-me na linha
sem que vos estejais a condenar as vós mesmos ao medo e ao menos:
eu sou a minha palavra, mas ela é para além de mim.
O «foda-se» escrito não me conspurca nem me conspurca «a puta que vos pariu» redigida:
são expressões de raiva, são nada, são punhadas na vossa mesa adormecida.
O que enlameia é a mentira praticada,
são esses escrúpulos com a minha essência,
essas invejas cretinas de blogobairro,
esse agir político doloso, tramante do pequeno,
isso é que é obsceno e auto-enlameia.
A palavra poética transforma e tem sabor.
Desinstala, estala na nossa cara, indignada, a palavra.
lkj
Não tenho um blogue para ter Pose de Estado e ares doutorais e chiquezas armantes,
não tenho um blogue para andar por aí bytesico e asséptico como os blogues-bem,
não tenho que ter as paneleirices da contençãozinha decente da gente altiva e com nível,
posso ser indecente aqui à minha vontade e não ter nível nenhum
no meu momento-palavra só meu,
não me derramo todo em alma e suor, em vida e coração-esperança aqui-d'el Blogue
para depois me ver constrangido aos lugares-comuns
e às limpezas por fora sem verdade a fundo.
Não me calam sem que a vós mesmos se calem.
Não me oprimem sem que também a vós mesmos se oprimam.
Não me ostracizam sem que a vós mesmos se ostracizem.
Sois todos, sômo-lo sem excepção, humanamente imundos por dentro.
Todos tendes o pior da nossa espécie, têmo-lo todos porque somos a espécie.
Todos estivestes ali, durante as grandes guilhotinações aristocráticas a fazer bruá
e a babar de gozo.
Todos assobiastes para o lado, todos!,
durante as grandes deportações com a penúria, a humilhação e a morte por destino.
Todos estais manchados do hipotético crime estúpido que outros cometeram: sois humanos.
E ser humano é isto de cruel, ingrato e tão contágio.
É aceitar isto e não vir aqui dar lições de bom comportamento
e tomar-se como bom exemplo para mim,
quando na verdade estais podres de ódios por dentro.
E há aí a sujidade de querer mal.
E há aí a tendenciazinha sem quórum de eleger quaisquer bodes expiatórios
para poderdes ser cabrões à vontade jacobina e cretina,
sob a capa da isenção e da razão e da cientificizante certeza de objectividade homicida.
lkj
Um dia o Céu vai chegar,
entretanto não me venham pôr na ordem.
Não me domestiquem.
Não me limitem.
Não me ensinem a ser conveniente porque eu nasci para ser inconveniente.
Fui feito para o cúmulo da inoportunidade.
Tenho o herpes bloguial da utopia contagiosa.
Tenho o herpes bloguial de isto, este mundo, não me chegar nem me servir
tal como (mentira e pouco) é
e de querer a liberdade completa,
e de protestar e em nada me submeter a esporas nenhumas,
nem as da vossa censura
nem as das políticas nefandas com que se sorri hoje mesmo
esse cheiro a peixe gesticuloso e demente.
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