MEU BLOGUE DE BABA E LÁGRIMAS



1. A história e as imagens de este peido humano
agredindo uma jovem equatoriana em pleno metro madrileno, se não erro,
correram o mundo e resumem por que motivo devemos ter asco à própria espécie
quer nos agressores, quer nos que conseguem manter-se quedos e mudos
perante tais asquerosas injustiças. Duas violências estúpidas, portanto,
porque a passividade agride e faz doer de igual modo.llkj

2. Um blogue às vezes não passa de uma fachada onde
ou só se escreve sobre amor,
ou so se escreve sobre mexericos,
ou só se escreve sobre sexo,
ou só se escreve sobre política,
ou só se escreve sobre livros,
ou só se escreve de boa mesa e boa vida,
tudo isto muitas vezes através da citação e da transcrição parafraseadas
e onde paira uma mansa atmosfera em que tudo vai bem,
onde as águas nunca se turvam e nunca ninguém é provocado.
Nunca há um gesto desalinhado e desleal,
uma vernácula palavra que se solte dissonante.
Nunca há senão elegância, correcção e classe.
É a deserção da autenticidade toda de que é feito um homem!
É o fim da espontaneidade, da auto-assunção das próprias fezes,
do próprio ouro, do próprio sangue,
do próprio esperma,
e dizer da lubricação vaginal activada,
e dizer das nossas lágrimas,
e dizer da nossa baba desesperada.
Não. Nada disso.
Somente fachada, efeitos musicais ou fotográficos e nada mais.
lkj
Pois para mim, agora mesmo, este é o sítio, o meu sítio,
onde escrevo sobre o garrote que é para mim e para muitos a falta de dinheiro,
onde escrevo sobre o excesso de trabalhos, sacrifícios e asperezas quotidianas,
sobre o excesso de custos e de gastos que impendem sobre mim,
que impendem sobre milhares de nós, portugueses e portuguesas calados,
conformados, acantonados à fatalidade de ter de ser assim,
por mais sangue que exsudemos.
lkj
Não nos passa pela cabeça alavancar multibancos das paredes públicas
em que foram incrustados
ou assaltar Postos de Gasolina ou Minipreços ou Bancos e quejandos,
mas se aqui há este texto serenamente desesperado, feito de forca,
se aqui há uma vontade de ladrar, de uivar,
de soltar uma fúria embestecida aos quatro ventos por tudo o que vai de duro e difícil,
que sorte de sentimentos leva gente de repente
a lançar-se à violenta toma de bens alheios?
Que ruptura, que mensagem percebida no ar, que possessão?
Que imagem malígna captam (talvez a Governação que desgasta e aperta,
talvez a velha desproporção desproporcionada dos que muito têm e dos que nada)?
A ética dos números não é ética nenhuma: ela, feita política, é que hoje nos oprime,
e vai esmagando, reduzindo-nos ao zero do ânimo
a todos os zeros do recomeço.

Comments

Ricardo Rayol said…
Não entendi muito do que se tratou o primeor item, mas imagino que tenah sido alguma coisa bem escrota para te deixar indignado.

No resto meu amigo, tens razão, mas não podemos também criticar que usa um espaço desses para falar de coisas mimosas. Cada um lida com sua consciência do jeito que pode, e tu lida de forma muito irada (no bom sentido de dentro para fora).
Tiago R Cardoso said…
Muito bem !!!!!!
Juℓi Ribeiro said…
Querido amigo Joshua:

Você tem razão.
"A passividade agride e faz
doer de igual modo"
E sendo passivos permitimos
que a dor aconteça.

Gosto muito da maneira livre
e sincera que escreves tuas postagens.
Confesso que eu não seria
tão criativa como você.
Liberdade é o espaço que
a felicidade precisa...
Me sinto livre para poder
escrever sobre qualquer assunto.
Já tentei escrever sobre política
mas não domino este tema,
escrevo melhor se o assunto
for amor...
Estou pensando em fazer uma enquete
e meus leitores escolherem o tema.
Poderia ser qualquer um e eu faria um soneto para cada tema escolhido.
Poderia ser morte, vida, desemprego, saudade, solidão, qualquer tema.
(Risos...)
Seria um desafio
e muito trabalho.
Já pensou?
Se você quiser pode escolher
um tema, ok?
Beijos.

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