RANKINGS, RANHO E REFORMA DO ENSINO


Não é preciso que se publiquem rankings e se lhes leia
o descalabro dos aproveitamentos na Matemática e na Língua Portuguesa
para se perceber que o Sistema Nacional de Ensino Público faliu estrepitosamente
e estrepitosamente defraudou a grande massa da sociedade portuguesa.
Quem vê estes resultados no 9.º ano e nos níveis seguintes,
choraria de vergonha se pudesse ter noção dos misericordiosos actos de maquilhagem
a que, por um lado, os pobres docentes procedem nas avaliações finais
ou, por outro, a simplificação estratégica a que, sob a tutela do Ministério,
os organismos encarregados de manufacturar os exames se entregam
como forma de atenuar o impacto das incompetências
no desempenho e resultados de esses mesmos exames.
lkj
É assim e será pior porque os governantes erigiram
o número resultadista como seu Súcubo e seu Íncubo!
E não está na natureza de ambos dar ou ter o mínimo de descanso.
Só, passentos, se lhes submetem, queimando outras ideias e outros critérios
mais fidedignos, mas que exigem a passagem paciente do tempo.
Não conhecem o valor dos cinco anos pitagóricos de silêncio absoluto e contemplação,
agitados numa acção metódica, pensada, mas nem por isso menos torpe.
lkj
Mas neste domínio dos resultados e rankings, os governos sucessivos
(culminando neste famigerado, que fez mais,
mais atabalhoadamente,
mais a partir do telhado em direcção às fundações,
mais à bruta,
mais a doer,
mais contra os docentes,
e em muito menos tempo que qualquer outro, beneficiando para o efeito
da mansidão bovina de esmagadora parte da grande sociedade desinformada e dormente)
os Governos sucessivos subsidiaram a mediania e a mediocridade
ATRAVÉS DE LEIS, DESPACHOS E DECRETOS PSEUDODEMOCRATIZADORES,
promovendo a transição desqualificada dos alunos para poder lisonjear os números,
e burocratizando até ao mais pérfido oxímoro
a verdadeira e selectiva selecção.
Se os alunos não são seleccionados,
mas democraticamente expelidos em frente para a iliteracia
e toda a sorte de incompetências funcionais,
parte-se agora para a selecção avaliativa dos docentes.
Aí antecipa-se o pior: que se proceda ao mais obsceno leilão de valorações,
ao sabor dos conflitos, das inimizades ou das lisonjas averbadas
no seio dos organigramas viciados das Escolas.
Será o vespeiro no Ensino. Será, pièce de résistance,
a crispação e o desgaste consumados no Ensino Público,
uma área onde as relações humanas intensas e desgastantes fracturarão
sob o peso das quotas e das 'últimas palavras'.
lkj
Talvez se verifique uma não pequena deserção ressentida dele-Ensino de muitos professores
a par de um piorar do conceito dele-Ensino entre putativos candidatos à carreira:
ao ponto de em 2015, o Ministério se descobrir na contingência
de ter de contratar professores ucranianos e espanhóis,
com pós-graduações apressadas em Língua Portuguesa,
para poderem leccionar e suprir as necessidades na Matemática,
ou professores Cabo-Verdianos para virem acudir à rarefação de pessoal no Ensino
e assim poderem suprir-se as necessidades
no ensino da Língua Portuguesa
e no que mais preciso for.
lkj
O resto é conversa de encher.
O resto é bodexpiatorizar quem no processo se vem macerando e moendo:
muitos e muitos docentes.
Tenho vergonha de esse legado de inconsistência e de improviso
Governo após Governo após Governo.
E, claro, tenho vergonha de este Governo e o seu discurso ostracizante do docente
relegado e sempre sob suspeita!
E não estou só nessa sentida e espessa vergonha.

Comments

Não sou professora mas solidarizo-me. Percebo perfeitamente a tua angústia e a de muitos professores que aqui comentam.

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