MAIS UM HOMEM DO SISTEMA


Júdice, o ex-bastonário e ex-gestor? ex-patrão? ex-presidente da Nova Alcântara, não é flor que se cheire. Raciocina bem, mas abastardiza a razão e os argumentos ao serviço dos poderes que lhe interessam ou do que é simplesmente do seu interesse. Assim foi, não sei se vai sendo, nas longas e abundantes linhas bajulatórias dedicadas subliminarmente ao Querido Líder e que esta legislatura testemunhou em tantos artigos de opinião invertebrados no seu escopo pragmático. Uma argumentação aparentemente razoável pode cumprir um reles serviço propagandístico e sustentar linhas de actuação reles e chavistas de um Líder Iluminado: eis Júdice, no seu papel de opinador ao longo de toda esta legislatura. Quando imprecou Marinho Pinto candidato e depois eleito bastonário da Ordem dos Advogados, defendi o segundo, desconfiado do primeiro. Hoje, porém, vê-se bem que são farinha do mesmo saco de gatos. Quanto ao actual bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, o desapontamento só pode ser grande. Cultiva uma certa fanfarronice que leva a nada, além do facto de ser dado ao respeitinho e a vexar sem necessidade pessoas livres no uso livre da palavra, como foi o caso de um célebre Prós&Contras, onde corrigiu grosseiramente um divertido usufrutuário da palavra. Tem sido bombástico no uso de pólovra seca denunciatória e recorre a hipérboles que me ficam bem a mim, mas são-lhe completamente impróprias a ele: falou ontem em “terrorismo de Estado” devido à realização de buscas com “mandados em branco”, numa entrevista concedida à rádio TSF, denunciando que o Ministério Público e a polícia vão a “escritórios de advogados” sem que haja suspeitas sobre eles, “unicamente para recolher elementos que possam interessar a algumas investigações”, o que constitui uma “prática própria de estados terroristas”, disse o bastonário dos advogados, citado no “site” da TSF. Curioso, práticas próprias de um Estado Terrorista?! Um Estado Terrorista não é aquele que faz uma justiça de linchamentos e tem juízes-fantoche ao serviço de tudo o que se quiser, menos da Justiça?! Não será aquele onde os casos se arrastam e se arquivam por sistema ou quando é tudo delicado de mais para os interesses do sistema?! O lado mais notório de Marinho Pinto não tem sido precisamente o do sistema ao basicamente corroborar, com os seus generalismos injustos, para a deterioração tantas vezes de uma certa imagem geral já fragilizada dos juízes e de outros agentes no terreno?! Enfim, o desgaste típico do menino e do lobo, das grandes bocas inconsequentes está aí a fazer os seus efeitos. Relata o Público que o bastonário, naquela entrevista, considerou inaceitáveis as buscas a escritórios de advogados, como a que ocorreu no escritório de Vasco Vieira de Almeida, um dos maiores do país, a propósito do caso Freeport bem como da necessidade de “se salvaguardar os princípios basilares do Estado de Direito” e acusou o Ministério Público e as polícias de alimentarem um clima de promiscuidade com a Comunicação Social. Na sua opinião, há “uma promiscuidade entre os maus investigadores e o mau jornalismo em Portugal”, sem qualquer preocupação de que “a manutenção deste estado de coisas crie um nevoeiro de suspeita terrível sobre a dignidade e inocência das pessoas”. Eis Marinho Pinto no seu melhor, bombástico e aparentemente desassombrado, embora muitos lhe assaquem somente irresponsabilidade e precipitação, gosto de pressionar e desassossegar mediaticamente os que cumprem com o seu trabalho. Só ele mesmo para ditar os critérios de mau e de bom e, como se vê, para falar, hiperbolizando, em Estado de Direito nesta questão fedorenta Freeport, lançando pedras na engrenagem, questionando metodologias e estratégias, tratando-se de uma busca da verdade que em Portugal é, vezes de mais, miragem e enguia esguia que o dinheiro sabe comprar, silenciar e anular. Há, sim, um terrorismo da inconsequência e da atoarda em Portugal e, sem dúvida, há também homens que estão ao serviço do sistema, da lógica nevoeirenta e promíscua que impera no País e esses, por mais que vociferem o contrário, suspeitamos que se estejam a cagar para a Justiça, um pouco dentro da lógica de Ferro Rodrigues que terá dito numa chamada telefónica uma das mais célebres frases da política e da justiça portuguesas contemporâneas: «Estou-me cagando para o segredo de justiça».

Comments

antonio ganhão said…
Sobre os escritórios de advogados... escreveria eu um livro. Teria o sucinto título de "O Escritório".

Inocente, não?
Anonymous said…
Nem mais. Excelente. Vou linkar este, se permites.


Abraço.


Spartakus.

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