MEU COLO TEU NINHO


Muitas vezes, durante o dia, durante a noite, pela madrugada,
dou por dois olhinhos perscrutadores, pupilas espertas,
postos em mim, enquanto digito com uma das mãos banalidades brilhantes
e seriíssimas. É a minha bebé, escondida no amplexo perfeito de estes braços,
no meu calor que a acalenta: palra já e fita-me como se me estudasse a atenta desatenção.
Interrompo-me então pelo silêncio sereno da sua bebécidade
em esgares gorgolejantes de um sorriso luminoso e sem dentes.
ljj
Quando uma luz mais generosa nela incide, brilham melhor esses grandes piscas.
Pupilinha dilatante, pupilinha contraente, pálpebra aberta, pálpebra fechada,
há em tais olhos uma cor verde que aflora,
talvez alga, talvez couve, e uma paz segura que me atinge,
baque em assombro com que me digo:
«Podia eu morrer já que me era doce por te ter visto!».
Peço então que me dure este tempo, meu milagre absoluto e contemplado.
Peço que este meu colo, quão bem a aquenta!, lhe não falte.
Quaisquer glórias são imundas em face de ela, quase três meses.
Quaisquer liberdades de Pássara e arroubos de Letras são inefável imbecilidade.
lkj
E, no entanto, estes dois corações colados num embalar sagrado,
sublime ventura, já não figuram nas ementas modernas da arte de gozar.
Parece um luxo supérfluo ou um empecilho que vos seja pura epifania
um par de olhinhos como estes à espera de quem apaixonadamente
lhes queira, entrega telúrica e intensa
de corações-fornalha.

Comments

Fá menor said…
Que lindo, meu amigo! De uma ternura infinita!
Bjs
antonio ganhão said…
Dás-te bem com o amor... afinal não funcionas só à paulada.
Mendonça said…
Quão enternecedora a magnificiência da descrição. Que sublime o momento da fusão dos sentires!
Joaninha said…
Eu ia dizer qualquer coisa, mas já não digo...Rebola-te lá nesse mimo todo, como os cavalos se rebolam na erva fresca, extasiados de prazer!

Beeeijos ó paizão!
Anonymous said…
Não há nada que me falte. Tenho absolutamente tudo. Tenho o que o mundo mais deseja, o que o homem mais sonha. Tenho o que todos buscam e poucos encontram.
SOU FELIZ, Carlos.. como nunca imaginei ser possível aqui. É tão simples e eu não sabia. Obrigada.
bjs
Anonymous said…
Não há nada que me falte. Tenho absolutamente tudo. Tenho o que o mundo mais deseja, o que o homem mais sonha. Tenho o que todos buscam e poucos encontram.
SOU FELIZ, Carlos.. como nunca imaginei ser possível aqui. É tão simples e eu não sabia. Obrigada.
bjs
Anonymous said…
Está escrito de uma forma tão ternurenta! Afinal, todos os que são pais (ou quase todos,sentem estas emoções. A diferença é que não conseguem colocá-las tão bem em palavras.
Parabéns!
Anonymous said…
Está escrito de uma forma tão ternurenta! Afinal, todos os que são pais (ou quase todos,sentem estas emoções. A diferença é que não conseguem colocá-las tão bem em palavras.
Parabéns!
Anonymous said…
Desculpem lá! sou nova por estas bandas e publiquei o comentário duas vezes. Não me dou muito bem com estas geringonças!!!
Anonymous said…
Nesse quase apagamento...de círio tremeluzente dois olhinhos... devolvem "O Menino" ao POEMA
ao pó iluminado, colo manto
Amor!
A um sentir tão tão imenso que embalo de olhar, faz da palavra, puro canto...silencioooo

SO BEAUTIFUL!Que seja FELIZ!
Anonymous said…
Nesse quase apagamento...de círio tremeluzente dois olhinhos... devolvem "O Menino" ao POEMA
ao pó iluminado, colo manto
Amor!
A um sentir tão tão imenso que embalo de olhar, faz da palavra, puro canto...silencioooo

SO BEAUTIFUL!Que seja FELIZ!
Daniel Santos said…
Tou como o António, afinal não te revelas só nas "dores" e nem é preciso a paulada.

Muito bom.
Lura do Grilo said…
Gostei .... e quase chorei com tanta ternura. Tenho saudades dos meus pequenitos ao colo: quando a cabecita ficava debaixo do meu queixo e eu me esfregava nela.
Tenho saudades daquele momento em que ouvi no ventre da minha mulher (ouvido encostado no local certo basta) o bater acelerado dos meus filhos com alguns meses de gestação.
Ficam felizes quando ouvem ...
Já vos amava antes de vos conhecer.
Obrigado pelo Post

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