SUBORNO MORAL, CLASSE E POSE



1. Caminho pela bloga como um pregador antigo, esbracejante, visitante mais silencioso, umas vezes, vociferante, outras, com certeza sempre indignado com o torpor covarde que perpassa muitos corações apertados por se salvarem a si mesmos, sem olharem para uma compreensão global das políticas deliberadas dos seus governos contra os mais débeis, sobretudo num momento em que o emprego desaba como um castelo de cartas por todo o Ocidente. Longe vai o tempo em que por longas décadas o Ocidente Norte-americano com as suas instituições de referência, FMI, por exemplo, pregava aos países do terceiro mundo sobre os caminhos desenvolvimentais a seguir e, como diz Lula, hoje estão quebrados. Nos meus comentários, não me poupo a um registo autêntico e lhano com as palavras fortes que forem necessárias. Por vezes, e pelo contrário, o que vejo em jornalistas-bloggers, com suposto estatuto reconhecido e classe atribuída e praticada, é um esforço por manter uma pose de isenção, de desafectação, uma pose de superioridade moral ou estilística relativamente a assuntos de pronunciamento moral e político obrigatório, dada a degradação evidenciada nas instituições da república portuguesa. É aí que me passo. Podem fazer-me muitas maldades, mas nunca por nunca ousem subestimar-me a mim e à minha inteligência, sobretudo quando sabemos que o nunca dito, o nunca nomeado, transforma-se no enunciado perfeito de uma certa bloga com 'classe' e 'estatuto' reconhecido assim como de de uma certa imprensosfera parcialística. Diz-me como e o quê silencias, dir-te-ei a soldo de quem laboras. Nunca nomear o peso de chumbo clientelar do Centrão, em Portugal, é grave. Nunca nomear a criminosa ausência de transparência, nas mordomias com que o Centrão tem cumulado o seu suporte clientelar, é crime. Não falar no regime de reformas abusivas atribuídas a muitos detentores de cargos e funções públicas, ainda em funções, é asqueroso. Olhos bem abertos, portanto. A insensibilidade social do governo Sócrates pelo aprimoramento da retórica do investimento, da retórica da acção, da retórica das preocupações sociais, o seu terraplanador de angústias e de sofrimentos mediante a propaganda, o seu centrar-me obcecado num magnífico Eu, torre de marfim ameaçada, chegam e sobram. Digam-me o que silenciam e ignoram, dir-vos-ei quem vos subornou moralmente. E talvez vos diga até porquê.
lkj
2. Um dos políticos e cidadãos que já passaram o prazo de validade no que tenham a dizer-nos ou nas suas peregrinas indignações facciosas é, por exemplo, ASS que vem agora, enquanto cidadão, mostrar-se indignado com aquilo que define como a "continuação de uma campanha política que visa o primeiro-ministro de Portugal e o secretário-geral do PS", José Sócrates, a propósito do caso Freeport. Dramatica, nervosa e aflitivamente, o cansativo ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, numa declaração aos jornalistas na Assembleia da República, diz-se ofendido com a campanha em curso, ignorando as dezenas de nomes investigados no caso entre os quais o de Sócrates e dos seus oportunos tio e primo, depois de ontem o Ministério Público, sabe Deus com quanta implorativa pressão por modalização linguística, "ter tornado claro [ambíguo no mínimo] que o engenheiro José Sócrates não estava sujeito a nenhuma investigação e que as autoridades policiais inglesas não carrearam nenhum facto relevante para o processo". O ministro da propaganda veio fazer o seu número circense canino ou pulguino, mas um pouco tarde, uma vez que a cortina de fumo tem nos factos profundos os limites que o bom senso impõe e é impossível ignorar vária ordem de inconsistências nas sucessivas comunicações e explicações sôfregas dadas pelo PM. Na medida também em que o suborno moral dos amigos e dos grandes manipuladores dos factos, da bloga e da imprensa ao serviço de quem manda, não resiste aos mesmos factos olhados desapaixonada e limpidamente.
lkj
3. É recente a chamada de atenção do PR para o modo de fazer as leis em Portugal, convidando à construção de leis mais justas e mais sábias, evocando o vício moral e a incompreensão que elas deixam à percepção imediata do cidadão. Sabemos que essas leis vêm seguindo nesta legislatura, também elas no CdPP, um critério economicista de fundo, por muito que se disfarce. O paradigma economicizante tem trilhado caminhos nunca vistos, deixando um sem número de aspectos da vida social destapados ou desprotegidos, nesta legislatura, o que a torna, à legislatura, em tantos aspectos falsificante da essência coesiva de um Estado supostamente solidário como o português. Não é por isso à toa que o presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Armando Leandro, defende que nenhum jovem com menos de 16 anos possa ser criminalizado. "Há um aumento da participação de jovens em crimes graves mas isso não significa que se deve diminuir a idade da imputabilidade em Portugal", disse o juiz Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR). Isto levanta o problema das instituições de enquadramento social, dos meios e recursos para fazerem o seu trabalho preventivo e formativo, sobretudo tendo em conta casos de assaltos e outros crimes perpetrados recentemente e que envolvem jovens com idade inferior a dezasseis anos, os quais carecem de um acompanhamento multidisciplinar parte do qual a Escola deveria estar apta a fazer.
lkj
4. O grande YesMan europeu, dócil à França, muito dócil à Alemanha, docilíssimo ao Reino Unido, Barroso, tem continuidade quase assegurada, uma vez que o Partido Popular Europeu (PPE) vai formalizar o apoio à recondução de Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia no congresso desta família política europeia, agendado para Abril, em Varsóvia. O líder da formação, Wilfried Martens, apresentou esta manhã em Bruxelas o esboço do manifesto do PPE para as eleições europeias de Junho e insistiu que o nome de Durão Barroso é “consensual” no seio da bancada popular. Parecendo ter recebido este prémio pela resoluta abertura à invasão do Iraque, agora Durão poderá continuar a beber as suas cervejas e inefabilizar-se de experiência e de êxtase administrativo.
kjh
5. Agora que o consulado de Bush finda e é substituído por novas políticas e novos pocedimentos diplomáticos, podemos olhar com alguma esperança o futuro de vários conflitos internacionais, alguns dos quais nem são notícia e no entanto enfermam do mesmo tipo de injustiça clamorosa que perpassa o conflito israelo-palestiniana, onde aliás não faltam factos consumados territoriais. Assim, a questão curda e arménia também são gente. Nesta medida, será interessante ler a análise de Margarida Santos Lopes sobre o que espera o enviado do Presidente Barack Obama ao Médio Oriente, George Mitchell: «uma missão mais complicada do que o processo de paz na Irlanda do Norte do qual foi um dos principais artífices, entre 1995 e 1998. Embora o ex-senador norte-americano diga que “nenhum conflito é irresolúvel”, vai ter de provar aos israelitas e palestinianos que a solução de dois estados ainda é possível e – mais importante – é um desígnio estratégico de que os Estados Unidos não vão abdicar. A ler, portanto.

Comments

Anonymous said…
PALAVROSSAVRVS REX JOSHUA são bem o epítome de quem comprometida e
empenhadamente dá a cara, as cartas limpas, contra a bloguista tentativa eletista,o jornalismo com grelhas impostas,a corrupção instalada.
Tornar as palavras Luz! são mote e missão de um pregador crucificado á verdade nua e crua, por oposição á cobardia e ao servilismo! O seu dizer toca-me profundamente e deixa-me pensar que nem tudo estará perdido! Faz-me lembrar Ghandi! tão imperetivo tão sábio, tão persistente, tão sofredor! Este não é de todo um elogio...e nem sequer o reconhecimento da sua força de conhecimento profundo das realidades. Sinto-o muitas vezes a bociferar no inferno dos FP por ser excusado a este mundo tanto sofrimento! BEM HAJA! por que assim escreve quem excelência deseja!
antonio ganhão said…
Ghandi? Deve ser da crise.

Já pensaste que talvez desta vez nem todos queiram empurrar o combóio de auto-flagelação de Sócrates? É que este tem paragem marcada para a estação da maioria absoluta!
Anonymous said…
Agora um àparte para dizer que Gosto, gosto mesmo do travo,com que -o implume , tempera sempre um bom prato!

Com licença do Joshua os meus respeitos ao (nosso)
António-o implume

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