EMPLASTRO PORTAS PELA JANELA

Ontem, como aqui exarei, nem tudo foi mau sinal na comunicação hoje transversalmente vista como desleal de Portas. Argumentar e persuadir um Povo em estado de choque para a inevitabilidade de ter de empobrecer ainda mais e à bruta não é fácil. Viesse agora Seguro, com uma maioria fresquinha de 70% a ter de impor medidas equivalentes e voltaríamos a encher a rua até que toda a verdade da nossa tragédia viesse à tona. Ela é dura e vem às pinguinhas. A nossa tragédia foi ter sido literalmente vendidos pelo prato de lentilhas de algumas dezenas tardias de PPP e outros negócios bons para os decisores políticos, bons para os privados, horrendos para nós. O mal desta novela política não é que Passos não recue, não é o extremismo da medida, porque aqui quem não cede, nem vai ceder, é o lado fortíssimo dos credores. Toda a gente esquece o papel exemplar e bonzinho que Portugal tem desempenhado à luz do qual-papel todos os falidos já falidos e todos os falidos potenciais supervenientes, Espanha, Itália, França, terão de  olhar. Portas tecnicamente já está fora da Coligação. Rompeu igualmente com a Troyka, Rompeu mansamente com o radicalismo dos credores. É, como dizia hoje Camilo Lourenço, na Rádio M80, a miserável classe política portuguesa em todo o seu esplendor a par de um Pobre Povo, reverendíssimos bispos sumiços e dormentes incluídos, que não pode nem sabe estar à altura das exigências brutais colocadas pelo Euro e respectiva permanência. Alegremente, vemos todas as demais forças políticas apostadas precisamente nisso: em sair do Euro. Sim, porque resistir aos credores e às moedas de troca selváticas de cada avaliação trimestral impostas sobre um Povo inteiro, equivale, para PCP e BE, à saída iminente do Euro. Olhando, portanto, para o grande friso composto por Seguro, Portas, Cavaco e os Partidos da Festa Protestativa, PCP e BE, temos toda a Covardia Fácil e Confortável do mundo. Passos só é 'Corajoso' porque não há mesmo alternativa à palavra dada. Está colado à TSU como um caniche enrabado por um São Bernardo e passarão horas, talvez dias, até o coito acabar por exaustão ou pela lei da gravidade. Passos, se cair, caiu. Ponto. Não vai espernear nem esganiçar a voz trapaceira como Sócrates por causa do PEC IV. Duvido até que se dispusesse a disputar eleições. No próximo Conselho de Estado, veremos mais um capítulo bufo da nossa infinita mediocridade com Victor Gaspar a dar o corpo à medida. Para Gaspar, cujo andamento mental e competência não é deste mundo, ou seja, não é de Portugal mas do Planeta Não-Medíocre, da Finança Não-Medíocre e do Resto da Europa Rica, Relevante e Não-Medíocre, o trabalho já foi feito e não se deve atirar o trabalho, as projecções, os modelos, as modulações modeladas pela janela. Gaspar, gostem os socratistas ou não, gostem os comentadores domésticos ou não, Gaspar tem mais prestígio que todas as cabeças amedrontadas que hoje justificadamente debitam choque e pavor. Recuar não é para ele. Está em causa muito mais que Portugal: é a nossa exemplaridade obediente e passiva que serve de padrão, linha de fronteira, para o além-sofrimento para os demais países intervencionados e a intervencionar. O que se assina, cumpre-se. A Fome, a Peste e a Guerra estão instalados. Felicidades a todos.

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