MEDITAÇÃO DEFICITÁRIA


Tu, que perseguias e matavas,
tu, que todos os dias olhavas essa lista de odiosos infiéis
que resolveras exterminar em nome de Alah,
repara como és agora um homem novo:
para quê a deriva do excessivo zelo?
Para quê revolveres os olhos por mais e mais vítimas?
Esmaga a serpente do desejo no teu âmago e sê livre.
lkj
Agora, os teus olhos encheram-se de amor
e a delicadeza comanda os teus passos.
O teu Governo conseguiu conter o Défice:
está nos 3% e há-de baixar ainda mais, prometeu ele,
e ficas feliz por não teres sofrido em vão e estás disposto a continuar
suportando o IVA e todo o taxómetro imponderável que corrigirá Portugal.
Já não sofres, já não gritas, já nada te parece insidiosamente castrante.
Tornaste-te Um com o Todo.
lkj
Vais e perdoas a magnanimidade tendênciosa do ministro Rui Pereira
por concordar com o parecer de arquivar
o Inquérito à tal devassa pela PSP ao tal sindicato da Covilhã.
É melhor assim. Temos de condescender. Que diabo, são pessoas e excedem-se!
Vais e perdoas ao empedrenido jacobino teu vizinho,
esse pobre eremita da divina Filosofia, marreta de argumentos irrefutáveis,
bom pretexto para ser desumano, seco como um bacalhau cheio de facas apontadas,
no mesmo anúncio de humanidade e bem-estar para todos
e que te chama estúpido e, se puder,
aproveita, humilha-te, maltrata-te por teres uma Fé,
e tudo em nome dos altos desígnios vexatórios e trucidantes da Razão.
Sim, vais e perdoas a esse profissional jacobino
para quem a Igreja é o único bode expiatório
e quem tem Fé digno de desprezo.
lkjlkj
Agora estás em Paz. És Um com o Todo. Nem paixões.
Nem dores. Nem ânsias. O teu Governo cuida de ti.
As suas metas são imaculadas. Vamos convergir.
Vamos ser desenvolvidos, com rigor e seriedade.
E tu és Um com o Todo.
É toda uma nova era de opinião e jornalismo que nasce em Portugal.
Faz de conta que não há restrições noticiosas ou notícias melindrosas
que um telefonema ou dois não suavizem e deflictam.
Nem dores. Nem ânsias.
Abraça o ying e o yang.
Remete-te ao Zen.

Comments

Sei que existes said…
O povo tem memória curta e esquece facilmente todo o mal que lhe é feito, tudo quanto lhe é roubado,o grande sacríficio que tem de fazer para ir levando a vida sem passar muita fome, em troca de uma migalhas do grande pão que o Governo tem...
Beijocas grandes
Não Joshua eu não perdoo nada disso. Eu percebo que não é este o Portugal que eu queria e quero contribuir não sei como, mas de alguma forma, para que haja uma maior justiça social e um maior equilíbrio a vários níveis. Eu percebo o teu desencanto mas não sei se as pessoas estão assim tão desapaixonadas.
Um abraço
Ricardo Rayol said…
Caraca meu amigo, isso é um texto pra lá de zen. Quase digno do grande mago esotérico oportunista, Heitor Caolho, a quem tenho a honra de psicografar.

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