PESADELO: NA SANITA COM SÓCRATES VS. KIWI-TORINO


Sonhei que entrava, aflito, na casa de banho de uma escola (era mesmo um sonho!),
sentei-me e comecei a enviar o meu urgente shit-mail.
Estava em plena actividade defecante
quando o 'Engenheiro' Sócrates, gritando, pontapeia a porta do meu cubículo
e irrompe bruscamente, levantando-me descomposto da branca sanita pelos colarinhos:
- Então tu simpatizas com o Kiwi-torino e tens passado meses a atacar-me?
Eu, atrapalhado e meio embaçado, só pude murmurar:
- Mas, 'engenheiro', deixe-me primeiro puxar as calças para cima.
lkj
O homem, porém, de olhos fulminantes, não se tinha
e sacudia-me mais e mais, indignado e indiferente ao cheiro, talvez pela simpatia
que nutre por todos os recursos ambientais limpos
de que nos podemos lembrar em 20 segundos:
- Então tu, que não me tens poupado a ataques e ironias, a mim e ao meu governo,
não vês que somos todos, eu e Kiwi-torino, farinha do mesmo saco?
Eu executo. Ele apenas comenta, mas concorda com tudo e é o mentor de tudo, não vês?
- Sr. Primeiro-Ministro, deixe-me ao menos limpar o cu primeiro.
lkj
Estava furioso e não me escutava. Nada de novo. Na verdade, o PM tinha razão.
Ele é que cumpria as políticas dolorosas e depois o Kiwi-comentador explicava-as
sem ter de se contaminar de impopularidade, de fastio popular,
de contestação, de ódio recebido mesmo, do justificado estigma quotidiano da arrogância.
- Então ele é que seria um sábio Primeiro-Ministro de Portugal,
e pedagógico e com lisura, hem? Não te lembras de quando eu era comentador?
Adivinhavas a sanha anti-professores, anti-funcionários públicos,
anti-jornalistas, anti-classe média em que me vês? Ele é comentador, tu gostas.
Eu sou executor, tu odeias.
- Engenheiro Sócrates, deixe-me ao menos recompor-me de ter estado a cagar.
lkj
Eu só queria limpar-me, lavar-me. Sair dali. Mas o personagem não se tinha.
Sacudia-me violentamente enquanto gritava.
Com uma mão ainda alcancei o papel-higiénico,
usei-o como pude... claro, imperfeitamente. Foi então que comecei a ouvir,
como numa alocução longínqua, aquela voz aguda de sempre
saída de uma TV ou de uma rádio, cada vez mais nítida e próxima:
«Portugal é o primeiro país a cagar energia renovável».
«Portugal é o primeiro país a dar passos decididos nas energias renováveis».
lkj
Afinal fora tudo um sonho. Eu adormecera durante um noticiário da RTP.
E era o mesmo Sócrates do meu pesadelo
que discursava com cagança e pose numa cimeira internacional qualquer.lkj

A minha vida continuava como dantes. Desempregado. Sobretaxado.
Paupérrimo, isolado e anónimo, graças às políticas dolorosas em vigor.
Odiei Sócrates por não me deixar nem cagar em paz,
graças ao controlo exercido pelo cartão único
e pelo cruzamento de dados que lhe permitiu GPS localizar-me.
Odiei Kiwi-torino por ter tido a ousadia de me ter enganosamente seduzido
com o seu linguajar brilhante das segundas-feiras, ele que é unha e carne
com o que possibilitou que me esmagasse completamente.

Comments

quintarantino said…
Essa merda deve ter sido de alguma coisa estragada que comeste!
Tiago R Cardoso said…
Que grande pesadelo, cruz credo...

Já não basta termos pesadelos de olhos abertos, quando olhamos para o estado da situação ainda por cima sonhamos com eles..
antonio ganhão said…
Finalmente a tua consciência funcionou! Pela primeira vez acho que o Sócrates fez algo bem feito... e tinha logo que ser um sonho!

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