OS CORRUPTOS NUNCA CHEGAM À CADEIA
«O
Governo proibiu que
se fumasse nos carros
privados, com crianças
lá dentro. Em Portugal,
os governos gostam
muito de proibir (até para
“apresentarem serviço”) e não
gostam, nem sabem governar.
Desde o “25 de Abril”, a nossa
história tem sido uma história
de oportunidades perdidas, que
inevitavelmente acabou num
grande desastre. Começou logo
com a tentativa do dr. Álvaro
Cunhal e de alguns militares para
nos transformar numa espécie
Vasco Pulido Valente
de Bulgária do Ocidente. Um
erro que nos custou 15 anos de
atraso (até 1989) e deformou
para sempre o regime político
e a economia. Ainda hoje, a
Constituição é absurdamente
“ideológica” e as reformas
principais (a da justiça, por
exemplo) continuam por fazer.
Tudo se paga neste mundo e a
“festa revolucionária” também.
Depois disto, que chegava
e sobrava, o PS, o PSD e o PC
(e companheiros de caminho)
partidarizaram o Estado. A
Assembleia da República é
conciliábulo de indivíduos,
sem responsabilidade ou
independência, que obedecem ao
“chefe”. A administração central
um aglomerado incongruente
de clientelas; a administração
local uma seita de compadres
políticos e de parentes sem
melhor uso. Os “negócios” são
repartidos por amigos do peito,
com a cumplicidade do Estado.
Os corruptos, não se percebe
porquê, nunca chegam à cadeia.
Mesmo o Tribunal Constitucional
depende, em última análise,
do Parlamento. No meio desta
desordem endémica e tolerada,
como se esperava a mais vaga
racionalidade da gente que
mandou e manda no país?
Depois de cada asneira vinha
invariavelmente uma asneira
maior. E um ou outro crime.
O dinheiro que se gastou (da
“Europa” e do cidadão) acabou
por ser gasto sem lógica ou
sentido do futuro, à mercê de
eleições que não serviam para
nada, excepto para trocar o bando
mais privilegiado. A Segurança
Social anda, como de costume,
perto da falência; a educação
falhou; e o serviço de saúde,
desequilibrado e mal gerido,
sobrevive à custa da fidelidade
de um pessoal mal pago. Esta
democracia tão incensada e
tão glorificada durante tanto
tempo, não tem futuro. E o pior
é que os portugueses, que em
geral querem entusiasticamente
a reforma de tudo, para se
“modernizarem” e para
“crescerem” como sucede lá fora,
não querem qualquer reforma
que os possa mudar a eles, nem
àquilo a que por equívoco ou
acaso se habituaram. Fica o
recurso de proibir que se fume no
carro com crianças. Deve chegar.» Vasco Pulido Valente
Comments