ACORDEM, FODA-SE!
Um ano depois do início redentor da austeridade às mãos da agremiação técnico-experimentalista Governo Passos-Troyka já todos percebemos que a receita estoirou. O Sul da Europa, apesar de nos anos oitenta ter aderido à estrutura basicamente estalinista e antidemocrática convencionada charmar-se União Europeia, mais tarde com o Euro a servir de Rublo, e com todos os benefícios daí decorrentes, não consolidou de todo níveis superiores de civilidade, democracia e um pulsar saudável do pluralismo mediático, mas, pelo contrário, viu florescer uma cleptocracia sofisticada agregada a partidos habituais no poder e que a si mesma e à sua ideologia apoda de 'socialismo', não passando de um socialismo da Banca e de um Socialismo da Prosperidade da Elite Política pela Prosperidade da Elite Política. Portanto, a minha tese é esta: a União Europeia acabou por equivaler, nos Países do Sul Europeu, a menos Democracia, a menos Prosperidade e a infinitamente menos Justa Distribuição da Riqueza, a menos Participação Cívica, a Máxima Corrupção Política aliada a um grau de Impunidade absolutamente intolerável, embora largamente tolerada pelas respectivas opiniões públicas domesticadas e morfinizadas pelos detentores do poder total também mediático. Ninguém Acorda-Foda-se! no sentido total da expressão, à excepção de quem se suicida na Praça Sintagma e o explicita por escrito ou de quem ousa declarar que a impunidade chegou ao fim para logo levar com a Tralha Socialista toda em cima, tão ciosa do respeitinho formalista, a grande puta. A estratégia austeritária dos Países do Norte Europeu sobre os do Sul vem provar que a Europa solidária e unificada já era, enquanto projecto e sonho dirigido por burocratas. Note-se que se hoje nós, os do Sul, somos punidos por uma linha de rumo catastrófica, sacrificial, não podemos imputar exclusivamente a essa Europa do Norte o abandono à nossa sorte e miséria. Foram precisamente as elites profundamente corrompidas, degeneradas, negreiras, instaladas nos núcleos de Poder dos Países do Sul, as primeiras a, fazendo-se eleger e reeleger com base em Demagogia e Mentira, deixar-nos para trás, traindo e saqueando concidadãos, e quem saísse no fim fechasse a porta. Em Portugal, o Partido Socialista foi o último a sair e fechou a porta com o fragor que se conhece. Em Espanha, o mesmo [veja-se a quantidade de obras de Regime, estradas, aeroportos, linhas de TGV, que se pariram em por onde, tal como em Portugal, só fantasmas e almas penadas circulam; veja-se o quanto e por que motivo o socratismo se bateu por que nos enterrássemos ainda mais com TGV e Aeroporto mesmo à vista do estoiro final e iminente das contas públicas. O caso grego foi mais do mesmo.] Daí que a receita punitiva dos programas de ajustamento [fomos nós a solicitá-lo], receita que está a destruir a economia grega e a abalar os demais Regimes imperfeita e erroneamente chamados de Repúblicas ou Democracias, é uma receita aberta por anos de saque e gestão danosa interna a esses Países. Não é a Banca do Sul a sofrer sacrifícios, não são os empórios económicos do Sul a sofrer com a austeridade. Quem enriqueceu com contratos e decisões políticas em causa própria, absolutamente ruinosas para nós, está fora de qualquer sofrimento. O sofrimento social e económico é todo nosso, dos Povos. É como se, para nos curarmos dos desequilíbrios de décadas de desgovernança, os eleitorados do Sul estivessem sob castigo em função de escolhas suas marcadas pelo comodismo e por um grau de exigência sobre a classe política menos que nulo e que afinal se paga bem caro, conforme estamos a sentir na pele. Agora que o receituário aplicado deixa um rasto de destruição na economia portuguesa e espanhola, abraçadas no mesmo declínio pelos próximos anos, não vale a pena apontar o dedo somente à estratégia e aos estrategos. Comecemos por questionar se, afinal, é mesmo sob democracia que temos vivido ou, pelo contrário, sob um simulacro pervertido dela. Se concluirmos que o Regime está morto, que a Democracia é um formalismo mentiroso, opressor, enganoso, está na hora de aperfeiçoar-lhe a face, encher as ruas como no dia 15 de Setembro para pressionar pacificamente os donos das rédeas e do cabresto, exigir Justiça e Mudar. Talvez um Governo, devidamente persuadido, aprenda a colocar-se fundamentalmente do lado de um Povo, para variar.
Comments
Mais um artigo de grande qualidade.
Aconselhámos a leitura no nosso blog.
Forte abraço