MARCHA EM LENTO


Este camião lento que transporta batatas
comunica ao meu ser, que lhe vai por trás,
conformado,
uma tão calma!

Conduzo por estas estradas de infância,
atrás de um camião ronceiro de caixa aberta
onde há sacos de batatas de rede vermelha
e outras coisas à toa, oscilando numa tão modorra.

O sol incide nele, camião, e a minha velha estrada desfila,
lenta, berma da esquerda, berma da direita,
onde a areia e o pó geravam lama e em coito químico se misturavam.
Minhas pegadas lá ficavam, sulcos pequenos,
de os meus pequenos passos, quando rezava por entre fomes,
sulcos maiores, quando treinava o sacrifício e a resistência e o suor.

Não quero ultrapassar as batatas de este camião lento.
Quero lembrar-me de mim e apegar-me ao eu-menino,
beijar-me, esse solitário ouvindo vozes dentro,
recluído no seu mundo, rezando pela família,
aspirante a Homem-Aranha,
candidato aos superpoderes, se existissem,
com que fosse herói e salvasse o mundo,
incansável atleta.

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