SERMO MONTIS


Pérola na vida é ter encontrado isto,
esta promessa cheia de paradoxal: a felicidade na sua energia absoluta
contradizer a evidência, o momento e o aparente.
Chorar e sofrer hoje terão em fracção de nada o outro lado: felizes!
A perseguição e a crueldade que se sofram hoje terão o outro lado: felizes!
Assumir o Teu Nome, Jesus, a Tua causa de amor intercessor,
salvífico, e ter de arrostar com toda a espécie de oposição e indiferença terá o outro lado: felizes!
É haver consolo depois que consola durante.
Triunfo da fé. Triunfo da esperança.
Depois de Te ouvir dizer, como quem esculpe na pedra, onde está a felicidade, Jesus,
está depois, deixei-me ficar reclinado entre a erva alta e a recurvada oliveira,
cismando.
Todos dispersaram.
O dia morre. A noite vai nascendo.
Faz frio.
Aconchego-me melhor no meu manto,
cubro os pés, escondo as sandálias para que não enregele. Mas nada importa.
Não Te segui porque Te sigo.
Falo-Te e sei que me ouves. Partiste com o teu grupo onde há mulheres.
Levantastes-vos cheios de sorriso e intimidade, andando para Betânia.
Fiquei no monte. Só.
Avisto agora o inteiro anfiteatro vazio dos esfomeados e doentes.
Ralos zarpam por um mar de vibrantes estalidos.
Este silêncio hoje é outra coisa, Jesus.
Fiquei, mas por que sinto eu que estou tão contigo como se Te acompanhasse
entre a multidão?
Vi os peixes e vi os pães.
O meu coração não sabe o que considerar disto.
A Lei é tão zero comparada ao amor com que nos cercas, com o olhar com que nos integras nem imagino em que abraço.
Olho as estrelas e penso nos nossos antepassados atolados de angústias e precaridade por todo a parte e seguiram uma Voz e, na Voz, uma promessa.
Eras Tu, Jesus, e que Te partisses e repartisses pelo mundo inteiro na mais humilde partícula
e que fosse possível morrer saturado de perdão, de amor, de esperança.
Belo Céu!
Esmace nele um azul muito doce e um fio de lua, lasca recurva de madeira albina,
vem acender-se no horizonte como um adormecer aconchegado.
Jesus, sentir-me-ás, aqui, tão só e tão cheio de Ti, pensando em Ti, pasmando em Ti?
Sinto fome.
Tenho frio.
Mas é aqui que quero terminar. A lepra tomou-me e corrói-me.
Nem penso nem quero cura.
Peço a morte. Que se me abra a porta do Teu Reino.
Que eu O veja brilhante, a essa Cidade Celeste que desce, enquanto eu suba.
Já vi o gérmen da vitória sobre o mal neste mundo.
Já vi o Justo, a Santidade indescritível falou-me hoje. Escuta-me agora.
Já posso morrer em sossego.
Eu sei que a violência desencadear-se-á contra Ti e contra Ti nos teus, mas nada resistirá
à obediência que nasceu nesta terra.
É tão bela a erva que vejo e oiço agora mesmo rumorejando, ondulando à brisa.
Ó brisa, beijo meigo do meu Jesus!, que eu me apague então
na doçura do Teu sopro,
que eu me extinga no veludo do Teu beijo.
O fim de este andrajoso,
de este mendigo miserável desde sempre pedinte,
de este que hoje comeu o pão quente multiplicado e o peixe fresco saboroso,
este pobre leproso na carne e na alma,
este pobre que é feliz
porque será consolado.
Hoje mesmo consolado.
Expiro...
Afinal, tudo é Sopro...
Sopra um vento de Vida mesmo quando se morre...

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