O SAPO RABO BANE OU PORTUGAL DOENTE


Portugal adoece a olhos vistos sempre que a liberdade é amordaçada ou a tentação de amordaçá-la ronda como os grifos em torno da carcaça inerme, imóvel, porque morta, da desinformação desatenta, do des-empenhamento social, da des-consciência geral. Claro que enquanto tu, amigo, continuares com as tuas postagens eclusivamente românticas ou superficialmente filantrópicas e não te informas a fundo, nunca repararás que há um roubo nacional em decurso, há um crescer de opressão e de desigualdade que se faz subreptícia ao nível do teu bolso e ao nível da tua liberdade criativa, interventiva ou simplesmente informativa, coagida pelos poderes de sempre como um garrote que se aperta lento: a censura a certos blogues incómodos, cujos autores são perseguidos e mal-tratados, de repente e convenientemente desaparecidos do sistema de certos servidores nacionais, é disso exemplo, como documenta também o corajoso blogue Do Portugal Profundo.

Depois, isto da interacção blogueana é muito lindo, mas tem desenterrado completos monstros e gerado absurdos de todo o tipo aberrantes, situações e ocorrências que a lei de modo nenhum está apta a prever e a tratar convenientemente, até porque o que agora está no ecrã, amanhã não está e como a prova, para ser prova, tem de ser material, permanente e palpável, deixando de o ser, deixa de ser prova.

Só agora, por exemplo, descobri o demente peso desmedido de uma sombra a monitorizar-me este blogue há meses, a espiolhá-lo, a desenterrar de ele toda a espécie de frases descontextualizadas para lhes dar o revestimento de ofensas pessoais a si, de injúrias, difamações e o que quiserem chamar ao que simplemente se escreve de modo intenso, uma sombra ET inventando perseguições minhas no quotidiano sombrio de essa sombra, investigando-me ela todo, toda a minha vida, detendo dados sobre mim incríveis de ter sobre mim, quando nada mais faço que poemas e nada mais que isto poético e não ando por aí a inventar inimigos e a recolher toda a espécie de informação privada e particularíssima com quem tenha um despique verbal na internet, tipo ora agora falas tu, ora agora falo eu.

De facto, foi-me movido um processo, que é coisa para me deixar banzado a duas dimensões: em primeiro, como é possível a aleivosia de ler em mim algum intuito malévolo seja relativamente a quem for simplesmente a partir do meu blogue e respectivos textos escritos, comentários a comentários, e nada mais; em segundo, como é que há, dentre a prestigiadíssima família dos juízes portugueses, alguém que dê andamento a mentiras sobre mentiras e a linhas de argumentação perfeitamente medievalizantes do nosso tempo, para não dizer maquiavélicas. Que eu ameaço, que eu persigo, que eu não sei o quê, coisas que jamais poderão ser provadas porque impossíveis de conter verdade - completas invenções de um espírito perturbado, desorganizado, de uma baixa auto-estima, uma insegurança, tais que em cada palavra palavrossavra minha (palavra grande, forte, mas coisa afinal extinta e enterrada e só visitada ou revisitada por quem quer, gostada por quem gosta, procurada por quem procura minoritariamente) vê o elefante real que lhe barra o caminho do sucesso.

Ainda por cima eu, que nada tenho, que não tenho dinheiro para andar à brincadeira cara dos processos e ao jogo caro das escondidas de adultos, que é frequentar Tribunais, vejo-me, portanto, arrolado para a doença de um doente, que vive e sofre para e por litigâncias permanentes e deve ter recursos para brincar a isso. Tudo bem, mas eu não tenho. Sou pobre. Completamente pobre e, mesmo que fosse rico, continuaria a não ser paranóico ou esquizofrénico.

Não tenho culpa de este sapo D. Quixote das causas, mas na verdade simples e prosaico Sancho Pança do prosaico, tenha um autoconceito desmedido, uma pretensão a uma notoriedade que parece que o ameaço só com existir, respirar e escrever. Não tenho culpa de haver raiva e ranger de dentes lá, onde medra apenas a vulgaridade dourada Rabo Bane, o sapo que se lembrou agora de ser engolido por mim.

Chamado para me confrontar com esta situação de arguido pelo Sapo Rabo Bane, lá fui à Polícia, tão inocente no meu modo inocente de viver inocentemente em tudo, excepto no furor poético, palávrico, e vejo que estou acusado, como K. n´O Processo, sem perceber porquê e, sobretudo, para quê, com que fim. Eu, que nem sequer conheço o cheiro de uma sala de Tribunal, vejo-me acusado, arguido - coisa inédita na minha vida. Na Polícia, falei serenamente, fui acolhido calmamente e já comecei a agir porque obrigado a agir. Provas, textos, elementos com que em primeiro lugar fui injuriado, traços textuais comuns entre anónimo injuriador e uma identidade assumida. Estou pronto a fazer o que tenha de fazer.

Há advogados humanos e há Deus, advogado absoluto, que como defensor dos homens inocentes e meu defensor chega e sobra, mas vejo-me forçado a acusar também, a queixar-me também, a exigir ser compensado por danos à minha paz, à minha privacidade, à minha serena paz e sossego sossegado, desde sempre e para sempre. Então eu, que sempre fui tão dado à sacristia e à pacífica missa, ia agora fazer mal a um sapo de óculos, cujos papinhos sob os olhos até convidam a um certo enternecimento!

Pois é, mas o Sapo Rabo Bane tem fotografia e eu vi-a, concluíndo aterrorizado do sapo que havia nela, na fotografia. Fiquei siderado e a pensar: «Meu Deus, 37 anos de vida e tinha agora de ter o azar de aturar isto, estas invenções, esta marcação cerrada ao meu blogue, uma pseudo-Justiça a avançar e a encontrar sustentação em petições ou queixas de homens-sapo, completamente evadidos dos Magalhães Lemos de esta vida, a importunar jovens pacíficos e poetas demasiado poéticos para estes sapos Rabo rimas Bane, artífices sem alma da rima desalmada, paladinos desastrados da caça às bruxas corruptoras, impecávais inquisidores do valor e da arte alheios. Portugal só pode estar doente, enquanto gente desequilibrada confunde tudo e ainda por cima é atendida pelos corredores tristes e incredíveis da nossa pseudo-Justiça, corredores ineficientes, corredores desperdiçadores de vida e verdade só porque é um direito acusar. Onde estão, afinal, os Julgados de Paz?».

Não. Portugal está mesmo, mas mesmo, mesmo, doente. Por isso mesmo tenho de rezar ainda mais. Por mim, tão inocente em tudo de que esta doença-feita-sapo me acusa, mas também pela alma do próprio sapo Rabo Bane, que, embora vivo, está morto porque desalmado e desproporcionado no andamento que deu uma coisa já morta e enterrada há muito tempo, ele, que é mais um daqueles contabilistas que não sabe somar e muito menos calcular aquilo em que se mete ridículo.
Ainda hoje me foi lembrado que um homem a quem se tira tudo passa a ser um homem sem nada a perder. Pois serei esse mesmo homem, se me tirarem o pouco nada que tenho.

Comments

Anonymous said…
Compreendo o seu problema. Também deixei de escrever quando descobri que tinham devassado o meu blogue. Sim, há vigia e censura na internet, ao mais alto nível.

Popular Posts