BALADA DE TODAS AS CRIANÇAS SEM RASTO


Havia um mar,
acúmulo de azeite, aveludado verde,
matizes de azul, marulhando doçuras.
Ao solevar-se, o sol,
sempre em sorrisos e generosidades térmicas,
algarveava férias familiares.
Crianças pequenas pequeneavam os seus corpinhos,
os seus cabelinhos, magnífica mansidão amada!
Homens, entre a multímoda multidão,
pousam os olhos nas "coisas lindas",
escolhem-nas, cobiçam-nas,
como se o mundo não passasse de uma loja a que se vai roubar itens baratos.

Abusadores abusados por abusadores que foram abusados,
numa linha genealógica de demência em que o Diabo, o Cão,
mais se compraz,
misturam-se em camuflagens de simpática normalidade cívica.
Chegam e partem,
solitários como zorros sinistros,
a quem ainda uma compassiva faca, bem longa, bem lâmina,
não varou.

Expia, mundo,
expia os marginalizados que engendras todos os dias.
Faz de conta que o espectáculo mediático te faz sofrer e te acorda.
As gentes, tristes, moídas, saem todos os dias para trabalhar o trabalho da submissão,
pequenas crianças a quem patrões, empórios,
com goluseimas precárias, seduzem, sentam no colo perverso,
para usar e abusar depois.

Apesar das catedrais, das bibliotecas, dos Direitos Humanos,
o mundo é este grande hospício de que tu, leitor, és o grande Intendente, Director-mor.
Belo serviço, meu cabrão civilizado! Quanto mais calado e passivo,
mais conivente com os penetradores-cruz-em-credo,
tão radiofónicos-TV, das crianças-crianças,
dos meninos-de-coro que somos todos no mundo moderno do trabalho:
ficar sem ele ou tê-lo é todo um Tarrafal.

Comments

I am from the U.S. and I tried an online translator for this article. What I could make of it is that you are a passionate person and I pray for this poor child and hope she is still with us and found.

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