PAUPERIDADE E SÔFREGO ACUMULAR

A pobreza é tanta coisa e fruto de tanta coisa:
no fim, concluiremos que se trata de um problema moral das sociedades
porque implica basicamente que os apetrechos essenciais do conhecimento-autonomia
não foram transmitidos, estimulados, consolidados,
e isso responsabiliza-nos, à metade não-(tão)pobre ou pobre-diferente.
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Por outro lado, ser pobre implica também uma opção instintiva-fatalista
oposta à lógica sôfrega que comanda o Mundo:
correr atrás dos bens, não atrás da paz,
não atrás da harmonia nas relações humanas e da justiça,
mas atrás dos bens, do acúmulo de dinheiro para lhes aceder.
O pobre embrutece só na conquista dura de cada dia sem fome;
descrê do poder do trabalho porque é necessária energia e metas,
e ele abdicou, porque a isso foi obrigado ou nessa desobrigação se moldou,
de ambas.
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O problema da felicidade não se coloca ao que falhou,
ao que nasceu e continua pobre: ele pode ser mais feliz que qualquer outro.
Coloca-se o problema da rebelião contra a exclusão
ditada pelo abismo entre mundos tão desencontrados.
Ora, abismo atrai abismo.
A pobreza humilha-nos o sentimento do que se quer em bem-estar colectivo.
A riqueza humilha o pobre porque é sempre desproporcionada,
disforme e ultradefensiva.
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A pobreza ética (a impossíbilidade de desdobramento de si no outro e seu contexto)

é a fonte de todos os males
e enche de autismo toda a abordagem
a esta questão que só pode ser tratada holisticamente.