CÂNDIDA, DE MATERNAL A ESPINHO ATRAVESSADO


Já por aqui comentei o trajecto da procuradora-geral adjunta e os seus pronunciamentos bastante polémicos na Universidade do PSD. Basicamente, veio rasgar o manto de silêncio e suspeição que recobre a vida obscena a que José Sócrates entrega em Paris. De modo inesperado, aliás, tendo em conta a atitude maternal que desempenhou no caso da Licenciatura Ranhosa na Independente e no caso Freeport. Claro que a tese de que Portugal não é um País de corruptos tem mais a ver com a admissão de fraqueza: o Ministério Público é demasiado contemporizador e complacente com a corrupção política. Não poderia ser de outro modo: os lugares que ocupam são fruto de indigitações políticas em face das quais os indigitadores só esperam gratidão e que os não chateiem, mesmo com sobeja matéria para serem incomodados. No momento susequente do colóquio, uma jovem pergunta-lhe: «Como é que o antigo primeiro-ministro, eng. José Sócrates, estuda e vive em Paris, como se nada se passasse, fazendo uma vida de grande luxo, [dificilmente] com o dinheiro dos salários que ganhou em Portugal, e sem que nunca tenha sido detido?» Qualquer pessoa, qualquer vítima das políticas de saque actuais tem obrigatoriamente de olhar para trás e questionar-se qual foi a troca que possibilitou que um simples político, a ganhar mesquinhamente no mesquinho papel de Primeiro-Ministro, pudesse hoje sustentar-se à grande e à francesa em Paris. Com o dinheiro dos seus salários de político sem outro mister ou carreira?! Impossível. O enriquecimento ilícito é uma evidência obscena que tresanda a crime por todos os poros. Só inúmeras comissões indevidamente acumuladas de decisor político, hábito consolidado e aludido no processo Freeport, lhe permitiriam uma vida de champanhe, uma vida a chupar vieiras em vergonhoso contraste com o lodo em que nos meteu. Por cada PPP em que estejam em causa centenas de milhões de euros para o Privado e prejuízos pornográficos aos contribuintes, como não se cansa de acusar José Gomes Ferreira, o que custaria pagar-lhe uma comissão de quinhentos mil?! Basta multiplicar estas comissões  por cada negócio ruinoso em fim de festa, com os cavalos das contas públicas na água. A resposta de Cândida Almeida é todo um reconhecimento de que há algo muito negro, muito obsceno e muito errado naquela vida larga, mas também algo de muito errado na impotência confessada. Não é por acaso que essa implícita e inesperada admissão de evidente corrupção no Abominável Corrupto de Paris por parte de Cândida Almeida deixa fora de si o séquito de animais que ainda incensa o exercício da Política enquanto Roubo Disfarçado e Manobra de Diversão.

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