FREITAS, O FISCO E OS RICOS

Entre os que querem lançar o estigma da culpa sobre os pobres, o seu lastro e o seu custo no orçamento, e quem aponta o dedo à cretina insensibilidade dos que têm altos rendimentos, não se pode ter dúvidas. Mesmo a questão dos méritos dos ricos em Portugal tem o seu lado caricato, dada lógica de estufa acalentada por políticos ao serviço dos nossos tubarões. Em alguns casos, esses méritos resumem-se a golpadas dadas cedo e a tempo, resumem-se a oportunidades oportunistas ímpares, como as que segregaram Belmiro ou Amorim. Depois há uma minoria com um sentido social e humanístico exemplar, quer no tratamento dos seus colaboradores-trabalhadores, quer na promoção do seu bem-estar, satisfação pessoal e familiar como ciclo virtuoso, comunitário, chave da eficácia e da produtividade. Ganhar bem, isto é, ser rico em Portugal, tem sido consequência de abusos: abusos sobre o Estado, abusos sobre os contribuintes, abusos sobre os que trabalham. Ora esses que são ricos porque os Governos os ajudaram, e são ricos porque exploraram, garimparam, pagaram mal décadas a fio, esses merecem dupla, tripla, quádrupla tributação. São corpos estranhos, sem sentido da totalidade, sem amor pelo próximo, sem capacidade de ver o outro e sofrer com ele. Veio Freitas, como poderia vir outro qualquer, colocar o dedo na ferida, advogando um novo Imposto sobre o Património com vista a um Portugal mais solidário na distribuição da riqueza e repartição dos sacrifícios. Os ricos que exploram até aos ossos o pessoal a quem pagam o mais miseravelmente que possam, devem pagar, e pagam mesmo com extrema facilidade, serviços de saúde, de educação e transportes públicos. Não há ninguém mais discriminado que um desempregado, um pobre, uma vítima dos delírios dos Governos, vítimas da voracidade e estratagemas de saque urdidos pelos grandes escritórios de advogados na Capital e pelos interesses instalados. Os ricos podem fugir do Fisco. E fogem. Fogem por todas as formas possíveis e inimagináveis. Têm, sempre tiveram, recursos, esquemas e artes, para disfarçar rendimentos e desviar do Estado o que lhe seria devido. Se o nosso regime fiscal é voraz, é voraz sobre quem não pode fugir. Não é nada assustador que, pressionados pelo desespero governamental por receita, os ricos debandem o País e vão pastar longe. Ui, que medo. Nacionais ou internacionais, não têm feito outra coisa. Têm recebido os incentivos da Segurança Social, os apoios do Estado, e depois vão para a China, que deve ser um lugar onde haverá por enquanto menor voracidade laboral e fiscal. Os nossos privilegiados e muito privilegiados, os nossos tubarões que partam em massa, que vão aonde quiserem, tristes com o Fisco. Nós, pobres, desempregados, desactivados, que já nem consumidores somos, nós devoramos papões desses todos os dias. 

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