QUE POEMA? QUE POEMA! CENAS DA PASSAGEM DE ANO
Que poema, meu Deus, quando me doem as pernas
das longas horas vigilantes estacado à porta de este sítio
onde dançam rotundas barrigas inchadas
e as calvas reluzentes de homens sessentinos
e há mulheres obesas fogosas
refogando em muita libido
e toda a gente transpira e se compacta
e se entretece numa tapeçaria de carnes ondulantes, saltitantes,
onde há esgares enlouquecidos a roçar a minha frieza gélida e solitária,
e homens crescidos que me vêm perdigotar os olhos impiedosamente
com conversa-alheira previamente embriagada
e o meu patrão reluz de triunfo com o encaixe de esta noite
e tudo isto feérico e grotesco me parece um Bosch revisitado
e eu estou tão alheio, pertenço a tão outra coisa que nem sei?
Que poema, meu Deus!
Que poema!
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Pois passastes o Fim de Ano a trabalhar...