POR SER A FEIRA A FALAR


Por ser a feira a falar, não conta. Bocas, larachas e bitaites todos podem dá-los. Para estabelecer prioridades políticas e ser levado a sério, logo num momento ímpar de Crise generalizada, o que é preciso é ter credibilidade, mesmo a credibilidade retroactiva, o que manifestamente não existe no Homem que Tem o Microfone Dependurado ao Pescoço Amarrado a um Lenço a Vender Colchas, Sócrates. Um país inteiro conhecedor dos seus subterfúgios mil, das saídas airosas de cena dos próprios 'problemas', 'trapalhadas', 'novelos inextricáveis' passados, para não falar na cavalgada autoritária presente, não pode dar crédito ao que não tem crédito. Só pode fingir que dá: «O primeiro-ministro, José Sócrates, disse hoje que "o país pede aos seus líderes políticos e empresariais que proponham soluções para a crise e não que descrevam a crise". José Sócrates falava durante uma visita à Exporplás, uma empresa de fabrico de fios e cordas sintéticas que está a aumentar as exportações e o número de trabalhadores, cuja liderança, do empresário Orlando Sá, classificou como exemplo a seguir. O primeiro-ministro dedicou parte da sua intervenção "à crise mais séria dos últimos 100 anos" para sublinhar que o país "não pode cometer o erro de ficar parado", sendo por isso necessárias "soluções pragmatistas" que contribuam para resolver os problemas e não "a indústria promissora de descrever a crise".» Pode acenar-se com o deus ex machina das soluções em linhas de crédito, quando não há credibilidade, não há nada a fazer. Pode legislar-se retroactivamente um fisco retroactivo que não o apanhe o próprio legislador, a fim de enforcar de coima e emolumento o pobre cidadão entretanto na miséria, quando não seriedade, não há nada a fazer. Pode-se fazer quanta patranha legislativa que for, fabricar um país injusto, triste e ainda mais democraticamente retrógrado e improdutivo, dada a desmoralização que um Estado rapinante, que malbarata, dissipa e não constrói, nos gera: o homem da feira não se enxerga, não baixa os decibéis, não pára a fuga em frente. E é triste. Bom, mas console-nos o facto de que, porque é a feira a falar, não conta.

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