PORTAS E A MERCEARIA DO PODER
Esta disponibilidade para entendimentos com o partido que emirja mais votado nas próximas eleições, se esse partido for o PSD ou o PS, confirma em Portas o estafado camaleão político que sempre foi. Preocupante é não existir naquela ilustre cabeça um discurso de ruptura com a lógica lesiva do País que preside ao Centrão. Normalmente esquecemos que o Centrão dos interesses abarca parte do PP e é por isso mesmo natural que o discurso cáustico anti-situação tenha, pela boca de este líder, os seus limites. Há controleirismo, manipulação, depressão da diversidade e da pluralidade democrática em Portugal em virtude de um apetite voraz do PM em produzir uma hegemonia omnipotente duradoura e asfixiante? Há! Isso incomoda e interessa a Portas? Não. O que lhe interessa é a Política Pura, são linhas de acção, caminhos e ideias alternativos, por exemplo, carreando seriedade às leis penais de brincadeira em Portugal. Move-o a possibilidade de influenciar. Acontece que, com Sócrates, o Regime cruzou tal estrema de putrefacção, de viciação do jogo, de deslealdade directa, olhos nos olhos, com os portugueses, que só uma demarcação de ruptura com este agente e actor político produzirá a devida recredibilização de um PP materializável depois no voto: «O líder do CDS-PP, Paulo Portas, defendeu hoje uma revisão global das leis penais e avisou que "não fará parte nem apoiará" um Governo sem que haja esse compromisso. "Não apoiaremos nem faremos parte de nenhum Governo que não se comprometa a rever as leis penais em Portugal", afirmou Paulo Portas, em declarações aos jornalistas no final de um encontro com representantes do Sindicato dos Profissionais da Polícia. Questionado sobre se admite apoiar qualquer Governo, seja PS ou PSD, que assuma esse compromisso, Paulo Portas afirmou apenas que está a "estabelecer um princípio". "Queremos uma revisão completa desta matéria", afirmou, para acabar com "a política mole e condescendente em relação à delinquência e à criminalidade". "Qualquer novo Governo e nova legislatura", acrescentou, terá também que encarar "o problema da motivação os profissionais da polícia", a nível operacional e salarial.» Até prova em contrário, o PP, o PSD e o PS são as piores faces, com o pior e mais danoso lado da democracia em Portugal. O jogo democrático, com eles, está viciado porque sempre ao serviço dos Finos de Portugal, ao serviço do critério de dois pesos e duas medidas, ao serviço do eterno marinar na inconsequência de quantos processos por corrupção se venham a saber. Contamos com o BE e o PCP para mudar este estado degradado de coisas. Contamos com eles para moralizar e fazer a transparência radical da vida política, dos interesses ocultos, da perversão que é o interesse geral ser constantemente suplantado pelo conluio do Poder Político com o interesse particular. E é bom que agora que estes dois partidos vão crescer mais que a malígna e irresponsável Abstenção nos não falhem nem se aburguesem, convertendo-se na modorra demagógica e irresponsável do Partido do Governo, um Governo que tentou vender gato por lebre, anúncios por acção, falsificando a verdade, a transparência, traindo as mais legítimas e desesperadas expectativas, tratando as pessoas e os grupos profissionais conforme o que pensa deles: irrelevante carne para canhão, nascida para obedecer, para regredir socialmente, para pagar e sobretudo para calar. Ora, como há desmandos infinitos na cúpula, como a contenção, a solidariedade e moderação salarial não atingem as directorias gerais e toda a sorte de sinecuras e cargos por nomeação política, ou há moralidade, ou comem esses. Portas não põe o dedo nesta ferida. A fantochada, o desmando, as unhas de furtar ao mais alto níveis seguem por prestar contas, incólumes e livres para continuar devorar, alternadamente de quatro em quatro anos, também graças ao silêncio do Grande Fotocopiador. Quando escutarem que a estabilidade é um bem necessário à democracia, introduzam no hard drive isto: a estabilidade é boa porque permite pequenos euromilhões para pequenos serventuários do Centrão sem avaliação, prestação de contas e a nossa noção e controlo sobre quanto e porquê andam estes discretos vampiros a ganhar o que andam a ganhar. Pois eu, por mim, não quero mais esta 'estabilidade'. Prefiro a 'instabilidade', prefiro o temor preventivo dos políticos pelo povo comum. A estabilidade minou-nos o crescimento, fez-nos regredir em todos os parâmetros económicos. Temos de arriscar na instabilidade. Votemos no imprevisível e no instável. Chega de Solentes Cretinos!
Comments