HONESTIDADE DESCOMPULSIVA

Cumprindo o seu papel, tal como nos outros países, onde o amor à verdade é equivalente no caso português ao amor por não querer saber de coisa nenhuma, fica-se precisamente a saber pelos jornalistas do Público, Cristina Ferreira, Paulo Ferreira, como quem infere, que novas nuvens negras se adensam sobre o asno áureo do costume. Haverá certamente quem se insurja contra as peças que vão compondo o quadro definidor de alguém cheio de recursos, um carácter espinhoso impressionante na abundância dos espinhos. Certo é que a cada revelação, que no fundo nos não surpreende, agoniza mais e mais o Regime: «O apartamento de José Sócrates em Lisboa, segundo consta da escritura notarial, foi adquirido pelo preço de 47 mil contos (235 mil euros). Dois anos antes desta venda, um apartamento idêntico no mesmo prédio (o 3º E) foi comprado por um emigrante português que estava isento do imposto de sisa por 70.200 contos (351 mil euros), ou seja, mais 50 por cento do que o valor declarado por Sócrates. Estes valores referem-se aos apartamentos sem arrecadação, tendo o de Sócrates, o 3º A, uma área bruta de 183 metros quadrados e o 3º E de 175 metros quadrados. O actual primeiro-ministro pagou mais mil e quinhentos contos por uma arrecadação.» A democracia é 'linda' quando todo o esterco se pode e deve transladar pelo voto ou pelo protesto: sai daqui e vai para ali, põe-se mais acolá, repara-se que cheirava mal mais adiante e muda-se de sítio. A democracia precisa de verdade e de transparência. Se os media cumprirem o seu papel em favor da verdade, apesar do assédio demoníaco a que são submetidos contra ela, é todo um País [em farrapos institucionais e apodrecido na credibilidade ao mais alto nível] e são os seus interesses que saem servidos, bem como o seu Povo. Políticos que não se comportam bem e têm latose para todas as saídas airosas, venham depois falar de cabalas e campanhas negrejantes, que nós acreditamos por um centésimo de segundo que seja. É por estas e por outras que qualquer coisa de muito novo terá de emergir no Parlamento, nas próximas legislativas, por exemplo um Bloco de Esquerda em condições de governar assim como um PCP muito mais forte: é urgente uma ruptura com os perpétuos abonados do Regime, PS e PSD, quando a lisura nula dos representantes políticos enterram os programas e a respeitabilidade exigida aos partidos. Chega de berlusconizar Portugal! Chega de Mentira como o Ar Natural que se respira no País!