A ESQUERDA QUER É QUE O POVO SE FODA
Faço greve todos os dias, já disse. Não preciso de aderir nem adiro à greve de hoje, 24 Novembro, 2011. O Metro do Porto impediu-me de cumprir o meu dever, hoje, e realizar-me na greve íntima que faço a cada dia. Hoje a Esquerda, que eu não vejo em lado nenhum nem sei o que é verdadeiramente, diz que é contra o assalto aos trabalhadores, opõe-se ao roubo à classe baixa e aos pensionistas, diz «não!» à perda de direitos dos portugueses, insurge-se contra o corte nos salários e nas pensões, rasga as vestes contra a precariedade no trabalho. Eu também, todos os dias estou contra tudo isso. Mas ao menos sou coerente e faço greve todos os dias [greve de fome, greve de dinheiro, greve de sono, greve de sede, greve de lazer, uma picola ida ao teatro ou ao cinema ou ao restaurante impossíveis, exorbitantes]. No mais fundo de mim, pergunto-me «porquê?». Vendo que a Política grunha trai e retrai este Povo bovino, não vou em greves alheias. Faço a minha. Se era para ter parado o País e dito um enorme «Basta!» ao caminho-catástrofe seguido, era fazê-las a tempo e a horas, no tempo absolutamente Cretino, Rapace e Pirata, de Sócrates, posto agora em sossego em Paris, no que constitui uma ironia amarga atirada como um escarro às fuças de um Povo sobejamente encornado pelos da Política, que passaram a ter muito mais dinheiro, muito mais poder, especialmente o poder da cunha, o poder da pressão lateral e vertical, o poder da influência mediática proporcionada pelo novo status, o qual, assente nos milhões abichados sabe Deus como, define desde logo quem sofre e quem desliza suavemente nesta merda de Crise. Este Governo viola-nos a boa fé e todas as expectativas pré-eleitorais, é certo, mas viola-nos com as medidas draconianas decorrentes de estarmos mergulhados num poço financeiro do qual só se sai combatendo o défice e abatendo a dívida. Protestar, exigir, escrutinar o Poder Político é importantíssimo, desde que todos os dias, ao longo de todo o ano, entre ano, saia ano. Se há um programa de Direita em Portugal, ele foi eleito pela esmagadora maioria, nas últimas legislativas. Se há uma Direita em Portugal, toda a gente quer pertencer-lhe. Até as almas peregrinas e façanhudas de Esquerda, que dormem em serviço, mesmo arrombada a casa comum pelos videirinhos sem Esquerda nem Direita ou Centro, só com a tusa do ganho pessoal contra tudo e contra todos, por cima de tudo e de todos. E não são só os Mercados e as suas agências de rating. É gente. Portuguesa, com certeza.
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