A PASSOS LARGOS PARA A LEI DA BALA
Não sei se repararam, mas há caixas de multibanco arrombadas a uma média/semana assombrosa. Li qualquer coisa relativa ao que se passa nesse domínio só em Vila do Conde, onde parece que é uma especialidade que veio para ficar, sobretudo em dias de ventania, chuva, raios e coriscos. Para lá do facto de esse tipo de roubo se tratar de um serviço profissionalíssimo em especialização permanente, ele inscreve-se dentro de um sentido quase escatológico do tipo que varre Portugal, entre todas as formas de impotência e injustiça: todo o roubo feito a um Povo Pachorrento conduz esse Povo Pachorrento ao roubo possível e ao desespero impossível antes de se tornar violento. Ora, tendo sido noticiado no dia dezasseis de Outubro que uma tal de empresa pública de nome Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, por acaso com resultados negativos na ordem dos 2,2 milhões de euros e um passivo de 71,7 milhões de euros só em 2010, gastou 237 120 euros, em veículos para directores, é caso para perguntar se esta gente, nunca murcha nestas coisas, quer uma bala nos cornos e se sabe como é que nós, os rente ao chão vivemos e a que limites chegámos. Sim, porque nós, semi-funcionários públicos ou funcionários públicos na plenitude do funcionalismo esbulhado e intrujado, encaixando à queima-roupa cortes dos subsídios de Férias e Natal, assim como os pensionistas, não podemos olhar com benévolos olhos a aquisição, pela EMEF de treze carros topo de gama para os seus directores. Isso é um escândalo a pedir qualquer punição de canos cerrados e um Otelo ou dois em cima de uma Chaimite a cagar mil munições de manguitos, daqueles que levarão mais de trezentos anos a gastar. Na impossibilidade de punir exemplarmente essa gente inominável da EMEF e quejandas, empresa pública de que a CP é a principal accionista — e já agora recorde-se o singular e escandaloso prejuízo desta última de cerca de 5,55 mil milhões de euros —, estava na altura de assumir a necessidade de desobedecer frontalmente tudo o que seja Poder Discricionário e admitir o caminho inexorável, a passos largos, para o caos e a lei da bala quotidianos.
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é termo colonial.