ARS OPINIONIS, EPISTVLA AD FORMANDAS MENTES

Escrever não é para todos. Construir e manter um blogue vivo por anos e anos também não. Vê-lo singrar e crescer, apesar do crivo preconceituoso de muitos tubarões exclusivistas da bloga, repletos do hálito a alho desprezivo do que seja demasiado alheio, demasiado independente e demasiado visível, também é obra. Foi, é e será o meu caminho. Sou um leitor assíduo dos nossos melhores opinadores, dos nossos melhores blogues, se bem que o meu conceito de 'melhores' seja o meu conceito e permita máxima abrangência. Graças à bloga, caminha-se nos media portugueses para registos bem mais agressivos e frontais do que foi hábito até aqui abolindo uma paz podre apenas ao serviço de quem rouba e dana a coberto da civilidade, boa-fé e curialidade dos outros. Questiono a chamada 'elevação da linguagem' se com ela se falseiam factos límpidos e se sacrifica um módico de honestidade intelectual. Também considero preferível ser passional e violento se com isso se fizer justiça à premência do tema ou se com isso se der combate ao cinismo e à perniciosa duplicidade que se pretenda combater. Também não interessa a 'clareza da análise' se por 'clareza de análise' se entender a mera obediência a pressupostos facciosos e duplipensantes. Só nessa medida é que proporia ao leitor habitual de artigos de opinião um crivo prévio dos objectivos e pretensões, interesses e serviços prestados pelo escrevente e opinador. Assim, se me fosse pedida uma declaração de interesses, diria que sou professor contratado, precário, empobrecido e descartável há catorze anos. Trabalho para sobreviver, o que é cada vez mais difícil e aviltante tratando-se esta de uma profissão onde a liberdade intelectual, a fruição dos bens culturais e respectiva divulgação têm um preço inacessível de que me vejo arredado, o que diminui a eficácia e mesmo a nobreza da profissão. Decidi ser espartano comigo mesmo antes que o Estado e a sua desesperação por impostos me obrigasse a uma vida de eremita sem abrigo, coisa que já esteve mais longe, uma vez que a minha percepção do futuro é fechada, completamente sem esperança de melhores dias. Desloco-me a pé para o metro e nele para o trabalho. Faço por dia, em média, mais de dez quilómetros a pé, faça chuva, frio, ou faça sol. Sou pobre nos bolsos e nos horizontes sobretudo desde há quatro anos, pelo que esta crise do euro, esta austeridade, e tudo quanto ela comporte em desemprego e falta de recursos para os demais portugueses já começou para mim há muito tempo. Comparados comigo, outros bloggers e outros fazedores de opinião fazem as suas reflexões ponderadas, os seus ensaios compactos de escrita cuidada ao serviço de quaisquer desígnios insondáveis a partir do conceito de produtividade paga pela facção, enquanto resíduos dos que perderam somente eleições, mas enriqueceram no processo do exercício do Poder. Se escrever pode e deve ser um combate por ideias e por uma ética individual e de Estado até aqui em rápida evaporação, então eu escrevo em parte para combater essa casta de assessores desempregados das assessorias governamentais socratistas e no entanto ainda activos, ousados, prolixos, fecundos na língua de pau, em defesa de uma dama enrugada, da sua inocência e da sua virgindade relativamente aos buracos, desfalques e danos causados às contas públicas, quando já todo o País concluiu da podridão da dama, do deboche da dama, do putedo a que essa dama se entregou no passado recente, enquanto Governo e sobretudo núcleo duro, pretoriano, dele. Tenho um enorme gosto, tornei-me cultor da arte de produzir opinião, melhor literatura de que sou capaz, coisa em que me testo continuamente, sem descanso e sem desfalecimento neste meu blogue. Não deixo de mostrar aos meus alunos mais crescidos algumas das melhores páginas alguma vez escritas pelos nossos Manuel António Pina, Ferreira Fernandes, João Pereira Coutinho e tantos outros, porque a arte a que me dedico, escrever, opinar, contrapor integridade e violência ao duplopensamento, espírito faccioso do partido-coutada, redil de eleitos. Não se pode admitir em Portugal que tudo se consinta a Governos especialmente daninhos. O aproveitamento descarado dos recursos públicos deve ser tão combatido retroactivamente como a fuga ao fisco para que nasça uma ideia mais pura e mais desprendida de serviço ao País e aos Portugueses, pela sua independência, soberania, orgulho e identidade. Os textos que a nossa imprensa produz, diária ou semanalmente, parecem caminhar no sentido mais correcto: a partir do momento em que o Partido deixe de poder pagar milionariamente certas opiniões flácidas que o defendam, resta a intuição e a leitura pessoais, ainda se repletas de fel, ao serviço da lucidez e da verdade. Se 'reflexão avisada' significa defender o Partido Socialista e o ex-líder dele, Sócrates, essa 'reflexão' merece, como contraponto, nada mais que a bojarda. Se 'opinião lúcida' consiste em defender o Partido Socialista, a sua obra 'meritória' e o ex-líder dele, Sócrates, deve passar-se ao estágio seguinte, que é o ataque pessoal, única saída, quando o debate de ideias está inquinado pela venalidade e a prostituição intelectual. Mentes, consciências e vontades foram comprados por bom preço pelo socratismo, que habituou os seus opiniadores e cronistas a bons honorários. Do mesmo modo, se 'crítica fundamentada' representa respaldar o Partido Socialista e o ex-líder dele, Sócrates, deve dar-se o salto qualitativo seguinte e privilegiar a insinuação, a intriga, a calúnia contra quem igualmente caluniou, insinuou e intrigou em blogues e imprensa, porque, repare-se, denunciar e recordar comportamentos concretos absolutamente criminosos contra o Estado Português e contra os Contribuintes Portugueses, é, para os assessores do socratismo «insinuação, intriga, calúnia». E assim se fica no bloqueio das palavras e na inconsequência das investigações mais detalhadas e exaustivas do jornalismo ou de magistrados mais corajosos, dada a captura dos órgãos de Justiça pela nomenklatura-tampão do Partido protegendo o reles, o crime, o abuso. A qualidade do português usado pelos opinadores e bloggers deveria ser regra de ouro na opinião. Não é. Escreve-se muito mal, sem bom gosto, na imprensa e na bloga. Mas deve sublinhar-se que se o português mais competente e articulado estiver precisamente ao serviço do branqueamento e da protecção pretoriana do Partido Socialista e do ex-líder dele, Sócrates, boa noite, ó prima, que se lixe o bom português. Qualquer um, que pense e arremede uma ideia, pode e deve apontar o dedo e combater o topete das assessorias-células activas do socratismo. Se quem escreve não têm o dom da ironia, se não possui um estilo marcado pela delicadeza, pelo fino recorte literário, paciência. Mesmo uma linguagem cuja estética seja a de um calhau da calçada e possua a limpidez de um pedaço de carvão ou o sabor de uma malga de sopa de gravanços, vale mais a pena atacar com essas armas o grau reles da Política do se ficar na pasmaceira e no encolher de ombros a ver os desonestos prosperar enquanto os cidadãos recaem na merda sem compreender a fundo o que lhes fizeram. Combater o mal [a trapaça política, a gula e a promiscuidade Estado(Partido)-Privados, o aproveitamento do erário, a conspiração silenciadora dos opositores e de um jornalismo investigativo devastador para quem mente] merece a adesão de todos os braços, de todas as vontades, de todos os corações. Cada português ultrajado está autorizado a destilar ressentimento e a maldizer malfeitores. Cada desempregado, cada empobrecido, cada esbulhado, antes de atirar as piores pedras a Passos e ao seu garrote zeloso, deve arremessar o pior do seu fel insosso sobre a gentalha socratista, sobre tal fauna de ávidos e de incapazes de decência. Não nos foi dado viver num País onde os culpados paguem, onde se assaquem responsabilidades e onde o nosso escândalo obtenha a justa compensação? Não tenhamos medo nem pejo nem problemas em criticar com a flor absoluta do rancor os que levaram ao ápice do desbragamento as contas públicas e fizeram outro tanto em maldade e perfídia política. Tratados pelos Governos como brutos, como destituídos de sentido crítico e força de julgamento, vistos como grunhos que comem tudo o que mediaticamente nos seja vendido, podemos e devemos retribuir na mesma moeda, causticar a corporação dos malfeitores, dos ladrões, dos imunes, dos impunes, dos exilados entre delícias por contraste com o nosso oceano de amarguras. O socratismo desceu todos os degraus da degradação, da manipulação e da falácia? Então passou a ser legítimo descer e degradar a linguagem e passar-se ao registo obsceno das escutas de Sócrates e Vara. Se ambos puderam, em conversas privadas, mas comprovadamente conspirativas contra os equilíbrios mediáticos e os poderes do estado, descer até ao registo mais reles e mais chulo contra a velha, contra o cabrão de Belém, cabe ao português médio, ao blogger livre-pensador, cabe ao opinador nos semanários e nos demais jornais, purgar-se de semelhante veneno, combater semelhante peste, sempre à espreita, ainda activa, como bom foco infeccioso que é. 

Comments

Anonymous said…
Sim senhor, muito bem dito, mas parece estarmos condenados a ser espoliados até ao fim dos nossos dias já que aqueles que se opunham à austeridade do PEC4 de Sócrates fazem o que se vê!

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