O BOM DA CRISE
«A minha infância foi passada nos modestos anos 50, ainda não entrados nos tempos de prosperidade, de ilusão de cada vez mais e melhor da década seguinte. Um dia, pelo Natal, no meu bairro, São Paulo, em Luanda, desaguou um circo, espanhol e pobre, de trapezistas de meias furadas e animais famélicos. Estava no estertor, teve de haver uma colecta no bairro para dar carne ao leão, mas o circo morreu mesmo ali. Venderam a lona da tenda e a velha camioneta Chevrolet, e despacharam os animais, nunca soube para onde. Na manhã desse Natal eu recebi o presente desejado: uma bicicleta. Mas os meus pais surpreenderam-se com a minha birra, não quis o presente: reconheci a bicicleta amarela do chimpanzé do circo.» Ferreira Fernandes
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já não encontram comida
nos caixotes do lixo