JOÃO CÉSAR DAS NEVES A EXORBITAR
Na foto, a detenção exemplar, pudica e hipócrita de Hugh Grant.
Quem nunca pôde concretizar o sonhado fellatio-broche na intimidade íntima
de onde e com quem nos apetecer, que atire a primeira pedra hipócrita!
çlk
João César das Neves às vezes exorbita.
Ao falar dos dislates de que a internet é useira, dos vazamentos de Rude e de Baixo
a que ela é achacada, parece preconizar uma espécie de instituto regulador,
garante saneador daquele tipo de incorrências.
Nada mais estúpido!
Espaço de genuíno e de liberdade absoluta,
qualquer regulação das linguagens, dos seus limites, só é justificável
no âmbito da criminalidade, do assédio, da ameaça anónima explícita,
dos conteúdos pedófilos e pedofilizantes,
e nunca dos excessos expressivos que nela abundam.
Enfim, esse vício de uma assepsia em tudo, imposta, controleira, pudica,
até nos nossos mecanismos expressivos e escolhas linguísticas
por que tantas vezes desabafamos sem peias,
inspira-me nojo.
Querer (sonhar com) truncar o humano das suas tripas,
desviscerar-nos, limpar-nos o pensamento da lepra linguística e ideológica do pecado de dizer,
de escarnecer, de maldizer,
da errância, do erro, merece-me todo o repúdio.
Um fórum e um blogue não têm de ser Encíclicas Papais,
por isso podem albergar uma dose de excessivo, de imprevisto, de hiperbólico:
esta é uma era que ama o risco e a adrenalina e se os textos não tiverem um pouco dos dois
é porque não pertencem a esta era.
çlk
Só aprovo filtros eficazes e dissuasores anti-anónimos soezes,
que os há - gente que insulta, que ameaça de morte, que avilta,
que tenta rasgar com a negra unha demoníaca
a já frágil e pequena paz da nossa intimidade familiar,
essa gente deveria ter cerceados os subterfúgios do seu escondimento covarde
e compreender que o crime, que a maldade anónima, não compensam.
lkj
Mas o mal é que João César das Neves aborda toda esta questão
de um ponto de vista altivo ou altivesco, como se nunca tivesse tido um excesso,
como se fosse o mais isento e virginal dos scriptores,
como se nunca se tivesse passado
e lhe não soubesse bem mostrá-lo bem com uma ou duas frases de mau génio:
- é um intelectual que paira sobre as vísceras revolvidas
das nossas revoltas e insatisfações próprias de seres humanos.
Era bom, seria bom que, tal como Jesus Cristo, se dignasse a condescender,
isto é, a incarnar literalmente esta pasta de nervos, gordura, ossos e sangue, humanos,
genuinamente humanos,
e deixar o crivo do joio na internet para outras ceifas.
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