POEMAS E NÚMEROS


Fui, numa época de extrema secura de Lábios onde, Fonte,
me dessedentasse, de seios onde, Sôfrego Tacto, me saciasse,
Ventre-Fruto em gume cortado e em fenda devassado eu-todo falo e todo língua,
buscar algum consolo à memória de poemas - «Esvelta surge, vem das águas, nua,
timonando uma concha alvinitente.»
Memorizar poemas tornou-se-me como que um Sumo
e bebê-lo foi-me dizê-los,
dizê-los com uma expressividade Viva, talvez Raivosa -
«Nunca conheci quem tivesse levado porrada,
todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo» - em linha recta.
Porque todos, Todos!, os Poemas me faziam justiça - «Um gato vivo é qualquer coisa linda,
nada existe com mais serenidade, mesmo parado ele caminha ainda
as selvas sinuosas da saudade».
lkj
Pharmacêutico de mim mesmo, em tanta Tusa Tensa por suprir,
o Poema engolido e ruminado fez-se corpo comigo.
Faz-se corpo connosco, em nós querendo,
e torna-se Cuzada-em-Cruz dada à irrelevância literária tão em voga,
cuzapada, culapada a essa literatura que vende Vácuos,
e tu, Toninho, meu cabrão, deverias compreender isto!, agora mesmo.
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Por isso, todo o meu assumpto,
toda a minha ascenção, toda a minha assumpção em corpo e alma é Viver do Poema.
Não vês isso, Pedro, meu pimbalheiro de primeira água?
lkj
Fui e fiz-me isso-Poema cravado na minha carne.
E foi então que o meu olhar analogizante rompeu de nexos anexando todos os mundos.
O Poema está em todo o lado e é até nos números. Existe neles.
Aos sorteios ou azareios comecei a olhá-los como construções caprichosas,
camaleónicas, moventes, reagentes,
que também camaleonavam em função do meu passo,
claramente, sob o meu olhar de lince, aquilino olhar de águia altaneira.
E via as migrações para o litoral e as concentrações no centro de um quadro,
como mobilidade encomendada, orquestrada, defensiva, sonsa, sorna.
lkj
Ainda hoje manejo uma extraordinária e infinitesimal memória visual.
Não encontro interlocutores, sei, como uma ferida em pus,
que se mente por grosso e nós deixamos, alarves cloroformizados.
Mas anuncio grandes rasgões de Verdade-Para-Todos neste século XXI.
E os meus poemas hão-de ser facas kafkianas a rasgar de Verdade
todos os conluios danosos sob a capa sórdida e mentirosa da Benemerência.

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