LACINHOS DE PERDIÇÃO


Em tempos ultraperversos, onde o ónus impende sobre uma mole de sobreviventes, precários e esfomeados, é bom beber a largos tragos o prazer de uma irónica lucidez. Um enorme abraço para o meu amigo Pata Negra: «Qualquer dia ainda vamos ver manifestações de trabalhadores reclamando a descida do salário e a subida dos impostos. Sim, porque não é só o senhor Nicolau que tem consciência da crise, nós, os trabalhadores, melhor do que ele, temos consciência de que a crise só será ultrapassada com o aprofundamento da crise, isto é, com a progressiva diminuição do poder de compra, com o aumento do desemprego, com a retirada dos direitos sociais, e até dos direitos humanos, se isso for necessário para ultrapassar esta crise. E mais, para que a crise seja ultrapassada é necessário que haja gente bem paga, com ideias geniais para resolver a crise. Como aqueles génios economistas - quase sempre ex-ministros das finanças, ex-governadores de bancos - que estudaram anos e chegaram à conclusão que a crise se resolve com o aumento das receitas e a diminuição das despesas! Nasci em tempo de crise, cresci em tempo de crise, vivo em tempo de crise e vou morrer em tempo de crise. Posso morrer pela crise mas por favor não me sepultem ao lado do senhor Nicolau.» Pata Negra

Comments

Manuel Brás said…
Que papagaios tão janotas!

Lacinhos de perdição
em formas e colorações,
é tremenda a contradição
em tão doutas erudições.

É miserável a perseguição
destes discursos letrados,
provocando-nos irritação
os papagaios amestrados.

É com muita tranquilidade
que se vive na podridão,
esta abjecta normalidade
espelha a nossa lassidão.

Com a nau atolada
em terrenos pantanosos,
a decadência revelada
depois de anos luminosos.

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