CORTE E COSTURA

Não tenho vontade de me voltar para ti e inquirir-te seja do que for e sentir-me bem naquela pureza encantada inicial com que te conheci. Pura e simplesmente esfriaste-me a vontade e, seja no simulacro da tua indiferença, seja na tua indiferença ela mesma, recuso-te a partir de agora e pronto. Porquê? Porque toda a tua pessoa já está feita. Não há mais tijolo sobre que cimentes alguma coisa de inesperado a partir de outrem em ti. Olho-te à luz afiada da tua palavra fugitiva e só vejo um balão inflado, um peixe-balão, inchado de «já sou e já tenho o que quero» e a luxúria de um poder lorpa e de um controlo em baba das variáveis todas. Ora que se foda a tua imobilidade e a tua petrificação dentro do teu quadro cristalizado de referências, de amizades e de certezas absolutas, que se foda também a tua tendencionite, que confessaste, censória, assim também pereceu Tróia e ao Cavalo enganoso serás tu, a seu tempo, a dar-lhe tracção para dentro da tua fragilidade distraída de segurança. Já que tu é que és a pessoa mais importante para ti mesma, vai-te foder que eu vou ali matar com facadas de raiva este assunto (e o ter gostado de ti de peito aberto!) por agora e para sempre, amén.
Yehoyaquim Santos

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