NÃO ME VENHAM FALAR DE "NÍVEL"


















Não suporto a palavra 'nível'.
Tu, nessa oca vaidade que te consumia,
usáva-la de mais naquele tempo de breu,
e, portanto, está para mim completamente esvaziada de neutralidade.
Agora só quer dizer 'meter-nojo-em-doses-cavalares' e sair impune.
Mesmo o que prometia o teu aspecto, coloração capilar e vestuário,
foi despudorada publicidade enganosa,
desengonçada e inexpressiva na esfera da intimidade,
onde era suposto teres 'nível' e não tinhas.

Escrevi 'nível'? Eu queria ter escrito 'competência'.

Depois de te ter suportado a lavar-me as mãos mil vezes por dia,
esticando-mas por sobre a banheira e vertendo sobre elas uma esmifrada gota de gel,
(reservavas para ti o uso exclusivo do lavatório que eu pagei e uma mão-cheia do gel que eu pagava)
desconfiada de que eu o não fizesse e cheia de esgares ameaçadores;
depois de te ter tido a vigiar-me a sintaxe,
a fazer o controlo dos meus enunciados insólitos e insubmissos,
da minha pose social, da minha toilete,
depois de tudo isso, chegar agora eu a um blogue e ler 'nível'
é ter outra vez a pulsão do vómito,
é reeditar todo o asco
que geraste em mim.

Sim, e tu eras duas. Uma a gritar de um lado.
Outra, a mamã, a gritar do outro:
«Já lavaste as mãos?»
«Já tomaste banho?»
«Não devias ter dito aquilo».
«Não te admito que me chames puta».
«É preciso pagar a conta da luz,
do gás,
da água.»

Foda-se, digo eu!

Ó corrupio cabrão que o 'nível' me impunha.
Fica-se com a língua de fora por causa do 'nível'.
Não se tem o benefício do sexo abundante e criativo,
sob a ditadura do 'nível'.
Não há a felicidade de uma conversação rica e inesperada,
sob a tutela-da-treta do 'nível'.

Não quero mais saber de 'nível' na vida.
Nem sequer tolero que me falem em 'passagens de nível',
em 'níveis de língua'. Chega.
Por isso mesmo é que nunca mais vou a este blogue pedante,
onde tresanda a 'nível' (alto, baixo, assim-assim) por todo lado,
quanto mais linká-lo!

E a culpa é tua que citas outro bloguer
que anda com o tresandante e tirano 'nível' na polpa dos dedos.

Assim sendo, vou ver se aqui se atrevem a usar esse conceito conspurcado,
mas ai dele!

Sempre há-de haver um sítio onde um gajo se sinta sossegado!


Joaquim Santos


Por que é que estes tipos não têm cuidado com as palavras que usam? A gente lê e fica logo com uma urticária, um desconforto psicológico sem tamanho. Quem quiser divertir-se com a ausência completa desse conceito, escrito e pressupostamente praticado, basta aportar a esta pérola anti-sanitária blogoesferiana.

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