RETRATO OPACO DO CAOS













Horas de vazio em que apetece reverso do mundo visível
e um não mais às energias soltas, cataratas de oco, cascatas de nulo.
Dormem então os poros e afadiga-se o coração em estar parado
porque o sol está refém da hora. Parva, a medusa persiste em recrudescer um tem-de-ser irracional, tentacular, sendo as coisas já tão tristemente álacres,
(quem tem despachos, tem a faca provisória e o queijo provisório numa mão que morre)
na desocupação alarve em grito, em ruído, da canalha por moldar.
Subam pássaros,
gralhem ministros,
sádicos, legislem, e depois apodreçam na desistência que semeiam.
A mentira dos números continua a rir de nós
e continuamos a encurralar realmente o desenho de um quadrado no chão,
como um prego visível de ar perfurando a palma
presa ao tronco
nu torso
de esta tácita espera entre sombras.

Joaquim Santos

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