O INTIMIDADOR
As coisas estão negras, estão muito negras.
E vão piorar ainda mais.
E a razão é amarela e canora.
E a razão é obviamente perigosa,
conforme se pode ver.
Cuidado com este pássaro tenebroso!
Joaquim Santos
A solidariedade na verdade não existe. Sob ataques injustos, fica-se só. Perante ofensas e calúnias, os amigos e conhecidos assobiam para o lado e é ao lado que passam. Mas é bom que se atravessem tais situações para ganhar couraça, para perceber até que ponto a tua identidade, a tua especificidade, a tua originalidade, a tua ousadia, mexem com certos indivíduos nas catacumbas dos sentimentos mais sombrios, das motivações mais abjectas. É bom sair vencedor precisamente aí, a partir de essa constatação fundamental num projecto criativo. Sair vencedor é seguir sendo como se é, tal e qual.
A INVEJA
«A inveja, amarga e amarela, é a planta maior do horto dos homens.
Dizem que é a reacção típica infantil. Talvez seja.
Se assim é, de facto, temos de concluir que boa parte da humanidade navega ainda em mares infantis. Não é raro surgirem manifestações de inveja entre irmãos de sangue.
No trabalho, na oficina, nos grupos humanos, nas comunidades, na arena das lutas políticas e sindicais, no mundo dos artistas, da ciência e da profissão...
A inveja puxa a cada momento do seu florete com que ataca pelas costas.
Ai daquele que triunfa! Muito em breve as vespas lhe cairão em cima. Os que encantam, os que brilham, os que conseguem ser queridos que se preparem para serem crivados de picadelas.
A inveja existe nas relações humanas em doses mais elevadas do que em geral se crê.
E digo isto porque a inveja, como se sabe, é tão feia, tão feia, que faz esforços enormes para se disfarçar. É uma espécie de víbora, que busca sempre um canto para se esconder.
Quanto mais feia é a sua cara, mais bonitos os disfarces que utiliza.
Por outras palavras: a inveja é sumamente racionalizante, ou seja, procura «razões para se disfarçar».
Diz a inveja: «aqui vos apresento cinco razões para demonstrar que fulano é um falhado».
Mas as cinco razões não passam de fachada; a verdadeira razão é uma sexta, a inveja.
Diz a inveja: «fulano não está a sair-se tão bem como vocês dizem: não se deram conta de que lhe falta brilho nos olhos, que exagera isto, aquilo e mais aquilo, que a sua entoação não tem o vigor exigido...».
Diz a inveja: «fulano não serve para esse cargo: a sua pedagogia não está actualizada, o seu poder de persuasão é relativo, a sua capacidade de comunicação medíocre; hoje, a sociedade precisa de homens com outras ideias, etc., etc., etc., ...».
Assim se disfarça a inveja, nunca ataca a descoberto, mas sempre encoberta das "razões". E desta maneira, sob a capa protectora de uma aparente racionalização, vegeta e engorda dando bicadas, minimizando méritos, apagando todo o brilho.
Muito se sofre por causa da inveja.
É porque vais ou porque não vais; porque fazes ou não fazes; porque dizes ou deixas de dizer...
E o povilhéu, à volta, começa uma série de interpretações e suposições: veio para se encontrar com tal ou tal pessoa; não veio para não se comprometer com tal ou qual coisa; foi lá com essa intenção; disse isto, mas o que queria dizer era aquilo...
E as pessoas vão projectando em ti os seus próprios mundos, o que eles fariam, as suas interpretações completamente subjectivas e gratuitas, que, com frequência, se aproxima da calúnia.
E, deste modo, começa a formar-se uma imagem distorcida da tua pessoa, imagem essa que vai tomando corpo até se converter na tua caricatura, o que é injusto.»
Ignacio Larragnaga, in Do Sofrimento à Paz
Em homenagem ao inofensivo RB.
Leiam-se ainda os abundantes e tão bem-humorados comentários anónimos neste e no post anterior.
(Avisam-se os mais susceptíveis que o risco de se escangalharem perigosamente a rir é real.)
Comments
não gosto muito desta imagem...não sei porquê mas nunca gostei deste pássaro.
nunca gostei...
fico à espera da tua visita e continua a fezer homenagens a quem é inofensivo, mas sem pássaros que parecem "pássaras".
beijo.
" Sinto-me hoje incapaz de fazer mal,
daria a um inimigo o pão e o sal,
tenho fome de amor de bondade,
sabem-me bem os gestos de piedade.
...
Troquei o mau prazer de me vingar
pela volúpia subtir de perdoar.
...
abro de par em par o coração
e deixo entrar o sol, respiro fundo.
Quisera suprimir a dor do mundo,
e a doida inquietação que nos consome.
Quisera ser o pão que mata a fome,
o sonho que adormece a pior mágoa,
quisera ser para o sedento, a água,
e para o Poeta o verso genial.
Sinto-me hoje incapaz de fazer mal,
quisera perdoar, fazer as pazes...
... e tudo, meu amor, porque há lilazes."
"
Fiquei a saber que é ó Kinkas. Podia ter-me dado o prazer de colocar o texto, se não sair no forum, como era minha vontade.
Xico Guedes
Kinkas, Olivio Matos, anónimo, e Joaquim Santos, são precisamente a mesma coisa.
Como pode haver mente tão doentia?
"Au revoir", esta gerra não é minha, amanhem-se.
Xico Guedes
os amigos e conhecidos que assobiam e olham para o lado.não são amigos nem conhecidos.são coisas.
beijo.