CONTURBADA GAGUEZ SELECTIVA

Não há memória de ministérios mais nulos e invisíveis que este Ministério do Ensino Superior e o Ministério da Cultura, aliás fruto de um equívoco muito badalado e cada vez mais certo de homonímia indigitatória, confusão, desconhecimento, que davam um livro. É delicioso por isso mesmo empreender leitura política a monos. Ora, enquanto o processo da Universidade Independente segue calado caladinho, discreto discretinho e tão desaparecido como a Arca da Aliança, numa tentativa desesperada de fazer política e simular existência, vem o Ministério do Ensino Superior solicitar hoje uma intervenção "muito urgente" à Procuradoria-Geral da República, de forma a salvaguardar documentação relacionada com a Universidade Moderna, selada desde a madrugada de sábado pela empresa Incentinveste. Os favores e o tráfico Morais de pseudo-cursos da Universidade Independente foi um chocante milagre tecnológico: há licenciados puros, em sentido de esforçados e curriculares, no desemprego e políticos de instantânea licenciatura bem postos numa vida de grandes passes de mágica e habilidades documentais. Dá vontade de rir que esta coisa se faça pública, pois se se pretende salvaguardar alguma coisa não é de bom tom fazer alarde público de ela e assim criar um belíssimo pretexto para que se consume precisamente o que se teme ou secretamente se deseja, pois nada seria tão tóxico e capitalizável politicamente que um acidente qualquer sobre aquela documentação excelsa. Além disso, que nos interessa que os papéis estão em perigos de donzela raptada?! «Em comunicado, o gabinete do ministro Mariano Gago informa que a Dinensino, entidade gestora da instituição, comunicou durante o fim-de-semana à Direcção-Geral do Ensino Superior que os edifícios dos pólos de Lisboa e Setúbal "teriam sido ocupados e selados pela empresa Incentiveste, à revelia da própria Dinensino". "Face à informação comunicada a este ministério pela Dinensino, entidade instituidora da Universidade Moderna, já encerrada, relativa à guarda da documentação legal a que está obrigada, o MCTES solicitou esta tarde intervenção muito urgente da Procuradoria-Geral da República no sentido de assegurar a salvaguarda dessa documentação", anunciou hoje o ministério. Em suma, há desespero difuso e a PGR não tem mãos a medir com o que interessa, mas interessa certamente menos que o que verdadeiramente interessa de mais e vai ficando soterrado no passado. Mexer no nome e no processo da Moderna é reerguer um fantasma-questão com destinatário político concreto ainda que muito remota e indirectamente. Isto é, Mariano está de serviço. C'est tout. Quando não for Mariano a fazer política e a ressuscitar os seus mortos favoritos será outro ministro qualquer a fazê-lo com outra coisa qualquer. Mesmo Dias Loureiro, espantalho entaramelado pelo qual esclarecimento nenhum escorre mas uma trapalhada risível, funciona como uma espécie de ariete nas mãos enlameadas de quem sombriamente procura apenas ganhar pontos na guerra perdida de nulo prestígio - duvidosa esfera da não menos duvidosa alta política nacional e onde Freeport e BPN são duas faces de uma mesma e só moeda onde quem perde somos todos, é Portugal, que tinha ali um ralo de esgoto, uma sangria malígna de recursos. Ninguém mais penoso a Cavaco que um Dias Loureiro que não se manca. Nada mais penoso a Sócrates que o enxame composto por Tio, Primo, Mãe, Família assim como das borboletas exóticas Pedro e Charles Smith. Mariano e a sua dentuça inteligente e sobretudo obediente, estiveram hoje de serviço, portanto. É matéria da sua esfera de deveres e de obrigações, não fosse o caso de que nada é inocente. Não há limites para o simulacro de acção, de preocupação entre esta magnífica gente laboriosa nos seus zelos éticos e judiciários que tanto nos comovem.