DESEMPALAR PORTUGAL

Uma das coisas mais extraordinárias e notáveis, sobretudo para quem vive desempregado há muito tempo, é notar que ninguém quer saber. No one realy gives a shit. A sepultura social e anímica cava-se mais fundo no desempregado; bastou um preciosismo administrativo para um homem ou mulher maduros se transformarem em desempregados, em mortos sociais, num fardo para as estatísticas limpinhas do imenso socratino Madelino; pressente-se a despreparação e formalismo dos Centros de Emprego, ouvem-se mesmo aí as queixas dos funcionários relativamente às decisões perdulárias, despesistas, erradas da Administração Central, o modo como o afastamento do terreno por parte dos decisores envenena toda a decisão política e mesmo certas directivas comunitárias, aplicadas obedientemente por cá, contorcendo o País num País de serviços, mas afinal vocacionado para qualquer coisa, como muitos outros países, têm um efeito afinal devastador, empalando Portugal e os portugueses no pior dos encurralamentos. Com a desactivação galopante da Agricultura e das Pescas, que funcionariam como perfeitos absorsores do impacto, tal como no passado, o problema português alastra e resiste ainda mais. Não veremos as praças repletas de protestos, insatisfação de arredados para bem longe de qualquer gratificação profissional ou vida digna. Não veremos tal coisa em Portugal. Choramingar nas ruas, expor nas ruas as feridas da exclusão, seria uma vergonha para quem sempre emigrou e foi humilhar-se longe do solo pátrio. Mas veremos o delito, o pequeno furto, a pequena dissolução, a morte e a violência irracionais, localizadas, lentas, cirúrgicas, o carjacking à nossa porta, a arma apontada à nossa cabeça. Isso, sim, veremos. Já começou. É a mais pura realidade que a violência banal se instalará, corroendo a última paz de um Povo Envelhecido, com uma classe política sem mensagem nem resposta, mentirosa e vil, sempre a mesma na Mesa Decisória, decidindo para si, para seu usufruto, para seu proveito. Os velhos deputados e dirigentes políticos há eternidades nos mesmos assentos parlamentares, nos mesmos gabinetes públicos e alcandorados à função imerecida de primeiros-ministros não têm rigorosamente nada a dar a Portugal: «O desemprego ameaça subir ainda nos próximos dois anos. A "história" dos números revela que esse é o período de tempo entre o início da inversão da recessão e a absorção do desemprego. E, se assim é, os centros de emprego deveriam ter um papel mais activo na antecipação dessa realidade. Mas estarão preparados?»

Comments

Anonymous said…
Senhor Joshua
Não posso estar mais de acordo com o que o senhor escreve.
Tenho para mim que esta é a pura da verdade:
OS CENTROS DE EMPREGO SERVEM PARA EMPREGAR APENAS OS FUNCIONÁRIOS DOS CENTROS DE EMPREGO.
Afirmo-o por experiência própria e de familiares, todos licenciados pelas Universidades Portuguesas.
Enquanto hover um subsídiozinho haverá Paz; quando ele acabar não espantará haver sangue a correr pelas ruas.
Parabéns pelos seus escritos.

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