LOUVE-SE E PROMOVA-SE

Tudo muito lindo, declarações de ódio, manifestações de terror sob o espectro da criminalização de ex-governantes, ataques de carácter a Passos Coelho provenientes das hostes mais inveteradamente venenosas e danosas do socratismo viúvo do costume. Acabado o seu antigo poder de fogo, esfumada a arte ou os argumentos de torpedear a Opinião Pública, caídos na mais indigente autodesculpabilização e autojustificação, resta a realidade e a epifania do carácter recto de quem nos governa hoje. Podem ter defeitos, mas as mesmas medidas cruéis anunciadas ontem pelo Governo possibilitam uma santa pressão por abolir velhos desmandos e jurássicos rodriguinhos manifestamente incompreensíveis: se há coisas que devem acabar, que ofendem o sentido de proporção, de que é que se está à espera?! Ora, e ainda bem, o Governo deu indicações ao conselho de administração da RTP para eliminar de imediato as avenças pagas aos titulares de cargos públicos que colaboram com o canal público de televisão. A deficitária e falida RTP pagava a deputados, parceiros sociais ou gestores de empresas públicas, entre 100 e 600 euros por cada intervenção. Isto vagamente recorda as célebres reuniões pagas aos milhares de euros no Conselho de Administração da GALP e quejandos. Pois, mas isto é a RTP, na qual alguns dos espécimenes referidos chegavam a auferir mais de 1100 euros por mês com este tipo de colaboração. Não seremos nós, o leitor e eu, que pagamos isto? Mas como, se somos pobres e andamos de barriga colada ao chão a ver se sobrevivemos um dia de cada vez? Foi graças a avenças destas que nestes seis anos socratistas tantos e tantos comentadores avençados comentaram merda nenhuma que desalinhasse do dictat conveniente bem no lado oposto dos alertas-cassandra de Medina Carreira. Dependentes, apoiando o erro, mentindo com quem, sendo Governo, mentia, as avenças a estes avençados foram uma fonte de corrupção, de faccioso, de mentira propalada e inculcada, impedindo a verdadeira liberdade desinteressada de opinar o que se pensa e não o que ao Poder interessava que se dissesse, pois pagava para que se dissesse ou não dissesse. Apoie-se, portanto, afixe-se, cole-se com cuspo na testa das viúvas de Sócrates.

Comments

Anonymous said…
Joaquim, se me permites, fiz uma viagem paralela pelo mesmo tema. Aqui ta deixo.
Quem lê esta parangona fica com uma ideia que, ao ler o artigo, clara e rapidamente desaparece.

Em primeiro lugar ficamos desenganados quanto à bomba que o título anuncia. Não há, como o título me sugeriu, obscuridade e trapacice, nada de políticos a receber dinheiro às escondidas por motivos dúbios. O que está em causa são os honorários pagos aos políticos pelas suas intervenções na televisão pública, que no parecer de Miguel Relvas são inexplicavelmente mais generosos do que os dos operadores privados. Dado o facto de falarmos de avenças entre €100 e €600 não me parece que, mesmo dando de borla a razão ao ministro, o excesso de generosidade da RTP tenha muita margem para ser extraordinariamente vasto.
Que desilusão, ficar extremamente estimulado com a ideia do sangramento em praça do povo e afinal ser só privada menstruação em final de tempo e fluxo.
Quer isto dizer que na RTP não haverá mais lugar a comentários de políticos com cargos públicos ou que continuará a haver desde que o façam de borla?
Confesso que quando imagino um político, tal como nós, a pagar a crise, espero bem mais do que isto.

Na cadência que a última frase nos deixa, chega-nos o segundo ponto.
Miguel Relvas diz: "A RTP não pode ficar à margem do esforço financeiro que está a ser exigido a todos os portugueses neste momento de emergência nacional."


Unindo as minhas deficiências com o desiderato pedido ao país, isto é, sendo rigorosos, a afirmação do ministro inicia logo com uma falta à verdade. Miguel, o esforço financeiro não está a ser exigido a todos os portugueses. Por jogo linguístico ou meramente por ser verdade o facto é que nem todos fazem um esforço financeiro e os que fazem não partilham a mesma intesidade de esforço. Isto acontece distribuido por bolos, sendo, na minha óptica, os principais os seguintes:
"Os pobres" - não pagam na teoria mas são os que mais sentem. Ora, na prática, os que mais pagam.
"A classe média" - pagam na teoria e sentem na prática. São os tramados porque ficarão pobres.
"Os ricos" - são os que mais pagam na teoria mas os que menos sentem na prática. Ficam na mesma.

Existe ainda um sub-grupo curiosamente transversal a todas as classes: os ladrões. Estes nada pagam em nenhuma teoria e menos que nada, evidentemente, pagam, em qualquer prática.
Há quem diga que este sub-grupo é, na verdade, bastante vasto... Dizem!

Finalmente, porque a lógica popular nos obriga a ter um terceiro ponto quando dois anteriores existem, o Governo propõe que os vencimentos dos quadros da RTP/RDP não ultrapassem os €6523 mensais, valor tomado como referência por supostamente ser a remuneração do nosso Presidente da República.
Serei extremamente breve.
Não há como não estar de acordo com isto.

Não se esqueçam é de limitar a remuneração a TODAS as empresas e organismos com pagamentos do Estado está bem?

É importante...

Abraço.
Miguel Neve said…
Aqui deixo o meu simples comentário sem quere entrar em grande discussão ideológica. Apenas pretendo evidenciar que o último comentário parece ter sido feito no contexto de uma telenovela qualquer de tantas que hoje passam, do que propriamente da vida real. Falar-se em termos de pobres, classe média e ricos e depois dizer que quem não encaixa é ladrão é cair num populismo demasiado. Considero-me pertencente à classe média (à mais pura classe média), pago os meus impostos com o orgulho de quem ainda acredita no seu país e independentemente das medidas que forem tomadas não cairei na pobreza. Como eu há muitos em Portugal que todos os dias se levantam, trabalham e alguns até acreditam que estarão a construir um futuro melhor. Não destrua as pretenções, nem ridicularize os nossos esforços com a suas simplificações dignas de propaganda populista.
Anonymous said…
Esclarecimento:
Miguel,
com o devido respeito digo que não terá entendido a mensagem subjacente ao meu texto. Espero que o tenha lido na totalidade e não se tenha fixado na parte mais simples e com menos texto.

O meu caro escreve:
"Falar-se em termos de pobres, classe média e ricos e depois dizer que quem não encaixa é ladrão é cair num populismo demasiado."

Ora, dado que não foi isso que escrevi, parece-me que a remanescente argumentação cai por terra.

E isto, claro, sem querer entrar em grande discussão ideológica.

Cumprimentos.

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